[FOTO1]
Reduzir os acidentes e as mortes no trânsito é um objetivo que exige, acima de tudo, decisão política dos governos em diferentes esferas. Traçar metas objetivas, criar mecanismos de aferição dos resultados e envolver a sociedade civil organizada, empresas e a população é imprescindível para o sucesso das ações. Resumidamente, essas são as constatações feitas por países que alcançaram algum progresso na redução de vítimas do asfalto, apresentadas no segundo dia da Conferência Global de Alto Nível de Segurança no Trânsito. O encontro representa um esforço para convencer as mais de 180 nações participantes a adotar legislações abrangentes e medidas para melhorar a segurança e a mobilidade nas vias. Para isso, foi assinada a Declaração de Brasília, que prevê um conjunto de iniciativas para que se chegue à redução de 50% dos óbitos.
O documento (leia Acordo na capital) significa um compromisso formal dos signatários com a coleta e a consolidação de dados sobre ocorrências de trânsito e de número de mortos e feridos. A ideia é evitar a subnotificação ; apresentação de números menores do que os reais. A declaração prevê também o desenvolvimento de estratégias com base em levantamentos e estudos científicos. Isso porque ainda é muito comum que as decisões governamentais partam apenas de percepções empíricas, sem se levar em consideração as peculiaridades de cada região. Outro eixo da carta ressalta a necessidade de maior proteção de pedestres e ciclistas. É a forma de garantir mobilidade e preservação da vida das partes mais vulneráveis nas vias.
Das palavras para a prática, há muito o que fazer. O uso das tecnologias na fiscalização, nos veículos e na melhoria das rodovias tem sido ferramenta imprescindível nessa luta. Assim como o aperfeiçoamento das leis de trânsito e, principalmente, investimentos em educação de crianças e dos condutores. No Brasil, tanto a fiscalização quanto a educação são pontos que pouco avançaram.
Há número para comprovar: 70% dos municípios brasileiros não fazem a fiscalização de trânsito nem estão integrados ao sistema nacional de trânsito, segundo a inspetora Maria Alice Nascimento Souza, diretora-geral da Polícia Rodoviária Federal. ;Esses municípios não têm agentes de trânsito. A política deles é voltada para combater os homicídios. Ignoram que os índices de mortes nas vias também são altos;, adverte. E não é por falta de recursos. ;O que falta é vontade política. Com a decisão política os recursos aparecem. A PRF se propõe a ser a indutora do conhecimento. Mas é preciso que haja interesse por parte desses municípios;, ressalta.
O ministro da Saúde, Marcelo Castro, reconhece as dificuldades na fiscalização. ;Ainda não é satisfatória e precisamos de uma política a longo prazo que, verdadeiramente, vai nos levar a um nível de país desenvolvido. A questão de segurança no trânsito vai depender de uma boa educação das nossas crianças e dos nossos jovens. A educação na escola será, sem dúvida nenhuma, a salvação final da segurança no trânsito;, afirmou.
Agentes
A experiência dos Estados Unidos mostra: ter uma fiscalização eficiente significa capacitar o agente de trânsito para que, além de cobrar a lei, ele possa educar o condutor e colher informações confiáveis dos locais de acidente. ;Após a leitura desses dados, é preciso planejar e definir estratégias de atuação. O agente deve entender o papel dele no processo;, defendeu Gwen Boniface, diretora executiva da Associação Internacional dos Chefes de Polícia dos EUA. A educação também contribuiu na Costa Rica. A nação reduziu drasticamente o índice de acidentes causados por privação de sentidos em um ciclo de sete anos, com coleta ampla de dados, operações de fiscalização e divulgação de campanhas educativas. ;Vencemos a direção aliada ao consumo de drogas e álcool. Agora, planejamos fazer o mesmo trabalho com a velocidade excessiva;, afirma Sebastian Urbina Cañas, vice-ministro dos Transportes do país.
Aposta nas alas de aula
A educação é outro ponto sensível no Brasil. O Código de Trânsito de Brasileiro (CTB) a trata como obrigação do Estado. O ensino nas escolas está regulamentado, mas é facultativo. E, ao longo dos anos, são raras as instituições de ensino ; públicas ou privadas ; dispostas a abraçar a causa. Presidente da Comissão de Apoio a Educação para o Trânsito, Samuel Correia de Aragão quis saber como os países conseguiram avançar nesse tema, uma vez que no Brasil já há previsão legal e o projeto não sai do papel. A resposta veio da Irlanda.
;Nós tornamos o ensino obrigatório nas escolas. Isso foi o que melhorou o comportamento do motorista. A partir do segundo grau, o estudante tem uma disciplina sobre segurança viária. Nas séries iniciais, nossos agentes de trânsito visitam as escolas e apresentam para as crianças os riscos de acidentes;, citou Moyagh Murdock, diretora executiva da Autoridade de Segurança no Trânsito, da Irlanda. Moyagh ressaltou ainda que o país reconhece ;a absoluta necessidade de o jovem ser educado desde a mais tenra idade"
A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique