A Rodoviária do Plano Piloto foi o palco escolhido para a primeira performance do projeto Drags Arte e Cultura. Pelo menos quatro artistas drag queens da capital se reuniram para um desfile de muito glamour, babado, confusão e gritaria, na tarde de ontem. Veronica Strass, Pyettra La Manttra, Nathanny Portielly e Fran Ferrari percorreram a estação com o intuito de divulgar e incluir a predominância da cultura LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) em locais públicos.
Idealizado pelo ativista Elker Barros, o projeto nasceu da necessidade de divulgar a arte drag brasileira além das fronteiras noturnas nas quais está inserida. Entre assovios e olhares desconfiados, o quarteto desfilou no meio do vaivém de pessoas e surpreendeu. Contagiados pela alegria das performistas, muitos que passavam pelo local pararam para contemplar o diferente. Foram muitos cliques, brincadeiras e sorrisos. O que predominou, no final, foi a mensagem de respeito e amizade.
A manicure e cabeleireira Kátia dos Santos, 40 anos, ficou surpresa ao encontrar o grupo de drags que desfilava pela plataforma inferior. Para ela, vestir-se dessa forma para lutar por um espaço na sociedade é mais do que justo. ;Elas são muito corajosas e têm atitude. O preconceito é algo antigo e vem de pessoas que não têm coragem de ser felizes.; Kátia não economizou nos elogios às performistas. ;Elas trazem uma alegria imensa. Tudo é muito extravagante e chama a atenção.;
Segundo Elker Barros, a arte drag é, talvez, o que exista de melhor nas boates LGBT e nas festas diversas realizadas atualmente. ;Queremos mobilizar profissionais da capital e incluir a predominância de drags em festas particulares. Essa é uma arte divertida e envolvente, e merece visibilidade cultural e valorização. O que estamos fazendo aqui nada mais é do que proporcionar espaço a essa arte.; Para o idealizador do evento, o acesso a essa cultura funciona como uma lente que amplia a visão das pessoas. ;Nada melhor que aproximar essa realidade da população. Precisamos desmistificar essa arte, tirando-a da marginalização. Brasília tem potencial para dar espaço para essas artistas. ;
O ambulante Júlio Alves da Silva, 60, defendeu que cada um tem uma forma de se expressar, e é aí está a beleza do mundo. Assim que viu as meninas, não hesitou em posar para as fotografias. ;Fiquei empolgado, porque não cabe a ninguém julgar o outro;, garante. Júlio, que trabalha dia e noite na rodoviária, reconhece que a escolha do local foi acertada. ;Aqui, nós temos de tudo e é na rodoviária que está a massa.;
Nathanny Portielly, 21 anos, atua há mais de dois anos como drag e diz que se sente orgulhosa de lutar por essa causa. O início do que hoje é também uma profissão foi na brincadeira. ;Eu comecei a me montar com alguns amigos. Depois, tomou proporções maiores, quando vi que, além da brincadeira, poderia virar trabalho;, lembra. ;Desde que comecei a frequentar baladas GLS, o show das drags sempre me fascinava. Enquanto vários amigos nem queriam saber de vê-las, eu ficava na frente do palco com os olhinhos brilhando;, relata Nathanny, contando como foi o seu início no mundo do salto quinze, do cabelão e das camadas espessas de maquiagem. ;Com esse evento, queremos driblar o preconceito e passar uma imagem positiva do que fazemos. Mostrar a nossa simpatia, o glamour e a elegância para descontrair a população.;
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