Jornal Correio Braziliense

Cidades

Jovens usam humor e arte para transformar realidades em comunidades

Moças e rapazes da periferia constroem uma identidade própria e preenchem lacunas muitas vezes deixadas pelos governos e pela sociedade

O mundo cabe na quadra, mas não se limita a ela. É por meio da cidade em que vivem que jovens constroem identidades e praticam a cidadania. As iniciativas, muitas vezes despretensiosas, geram sutis revoluções. Com a energia típica da idade, eles transformam a comunidade e descobrem a força que têm para construir mudanças. São exemplos em que humor, dança e teatro despertam a consciência para os direitos negados e os serviços não prestados pelos governos. Os resultados tornam a diversão uma mobilização, que envolve os moradores da área.

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O humor foi a ferramenta para Naldo Lopes, 28 anos, Rafael Melo, 25, e Michel Israel, 27, batalharem por mais atenção para Ceilândia. Os três costumavam abordar, nas páginas pessoais no Facebook, os problemas cotidianos da cidade. ;O pessoal começou a achar engraçado. A gente falava de lixo, buracos e enchentes, sempre de um jeito divertido;, conta Naldo. As fotomontagens e os vídeos repercutiram. ;Depois que a gente divulgava o problema, em uma semana, alguém da administração vinha aqui e resolvia;, lembra o rapaz.

O impacto dos posts deu origem, em 2012, à fanpage Ceilândia Muita Treta. A escolha do nome se deveu à reação que os rapazes presenciavam sempre que diziam ser de Ceilândia. ;Quando chegamos ao Plano Piloto e dizemos de onde a gente vem, algumas pessoas já se espantam;, comenta Naldo. Hoje, as quase 45 mil curtidas comprovam que a brincadeira virou coisa séria. Por meio da divulgação de problemas que, segundo eles, passam a maior parte do tempo escondidos, eles conseguiram atingir um público engajado e interessado. O sonho desses jovens parece simples, mas representa emancipação e conquista de direitos. ;As pessoas olham para as periferias do jeito errado. Nosso objetivo é conseguir ser a voz de Ceilândia. As nossas postagens têm alcance. Querendo ou não, o assunto vai chegar às autoridades;, enaltece Naldo.

Na Cidade Estrutural, a arte faz florescer a consciência dos direitos em crianças de 6 a 12 anos. Alunos do curso integral do Centro de Ensino Fundamental 2 encenam peças, cantam e dançam no contraturno das aulas regulares. A experiência trouxe uma mudança significativa de comportamento dos estudantes. ;Não converso mais nas aulas, porque aprendi que, no teatro, eu tenho todo o tempo para falar;, explica Victor Gabriel de Araújo Soares, 9 anos. É com profundidade que o garoto explica como aplica o que aprendeu. ;Eu entro no espírito do personagem. Para quem tem vontade, não é difícil;, garante.

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