Jornal Correio Braziliense

Cidades

Moradores do Guará promovem tarde de atividades populares nas ruas

Para celebrar a liberdade de se divertir nas ruas sem medo da violência, as crianças podem brincar com amarelinha e bete

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A infância onde a rua era o grande palco das brincadeiras pode ter ficado no passado. O tempo passou, a geração mudou, vieram as tecnologias e o peso da violência. Nos últimos 20 anos, os bosques das entrequadras esvaziaram-se. A amarelinha feita no chão desbotou. Saudosista, um grupo de professoras do curso de pedagogia de uma faculdade do Guará fez, ontem, uma homenagem às brincadeiras antigas. A viagem ao passado fez parte da comemoração do Dia das Crianças promovida pela liderança comunitária da QE 46 do Guará 2, que contou também com passeios em caminhões do Corpo de Bombeiros e em viaturas da Polícia Militar, pula-pula, cama elástica, teatros de fantoche e distribuição de brindes.

Entre as brincadeiras resgatadas pelas pedagogas estavam o bambolê, amarelinha, elástico e pular corda. A pedagoga Fernanda Cristina Avelino Moreira, 38 anos, levou os dois filhos, Geovanna Moreira Telles, 16 anos, e Mattheus Moreira Telles, 12, ao evento e afirma que sair de casa e afastá-los dos celulares e videogames representava uma vitória. ;É como se eles não tivessem infância, quase não brincam nas ruas, é importante que tenham essas vivências;, diz. Impaciente para dar uma volta no ônibus da PM, Mattheus relatou que a brincadeira favorita é o videogame, mas que estava feliz por ter um dia cheio de atividades diferentes. A bicicleta e o futebol também são presentes na vida dos jovens. A queimada, mesmo sendo um jogo antigo, ainda tem espaço. A rotina, porém, gira em torno dos celulares. ;A gente tem toda a diversão no celular;, completa o menino. A experiência foi positiva para a família, Geovanna não conhecia a brincadeira de elástico e se divertiu.

O atendente técnico Delmiro César Lencina, 43 anos, levou a filha Mirela Silvério Lencina, 5 anos, para curtir o evento. ;Acho importante manter certas tradições, é bom para a saúde e para a socialização dela;, acredita. Para o pai, as brincadeiras tecnológicas costumam isolar as crianças. O que mais encantou Mirela foi o bambolê, ela e Delmiro arriscaram algumas voltinhas e riram juntos. ;É muito valioso pode trazer a beleza da minha infância para ela;, completa Delmiro.

Brincar na rua faz parte da lista de recomendações da Academia Americana de Pediatria. Em estudo recente, os profissionais aconselham os médicos a encorajarem as crianças a brincarem o maior tempo possível ao ar livre. Os especialistas dizem que é uma boa fonte de atividade física e, entre outras coisas, protege contra a obesidade infantil.

Mudanças

A professora Karem Kolarik, 41 anos, cresceu em um aconchegante endereço no Cruzeiro, em um tempo em que nem as grades nos pilotis existiam. O cheiro era de liberdade, com bete, bicicleta e patins. Quando a criatividade entrava em cena, surgiam desenhos no chão, casinhas de bonecas eram imaginadas e a molecada toda caia no encanto. ;Hoje, isso é uma exceção. Meus filhos vieram já na transição para o tecnológico. Bem diferente do que vivi. Faziam mais atividades dentro de casa ou no período do contraturno, mas na escola mesmo. Nunca eram atividades livres. Sempre dirigidas;, lembra Karem.

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