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Cineasta brasiliense produz documentário sobre extinção de livreiros


O livreiro é um personagem do imaginário coletivo. É alguém que vive e respira literatura, que passa os dias a se encantar com histórias maravilhosas que transportam o leitor para outro planeta. Que conhece cada lombada pela edição, cada capa por sua história. Que sabe onde estão os livros em cada prateleira. Que aprende o gosto do cliente assíduo e acerta em sugestões e dicas.

Mas a profissão de livreiro está acabando. As livrarias de rua, se extinguindo. “As livrarias, assim como os cinemas, se refugiaram nos shoppings, e trabalhar em uma grande rede é como vender sapatos, sem muita relação com o produto”, explica o cineasta Pedro Lacerda, 51 anos. No começo deste ano, ele começou a filmar um documentário chamado Profissão livreiro. O objetivo é contar as histórias dos últimos profissionais da cidade — Chiquinho, da UnB, e Ivan Presença são alguns dos poucos bastiões que ainda restam —, assim como discutir o futuro dos livros no país.

O cineasta explica que o fim da profissão nada mais é do que um prenúncio do fim do interesse pela literatura. Em pesquisa divulgada no mês passado pelo Ministério da Educação, 56% dos alunos do 3º ano do ensino fundamental foram considerados inaptos a entender uma história lida. “Tem coisa que não dá pra esperar. São questionamentos que estão em debate mundial. O objetivo desse documentário é colocar uma luz sobre esse mundo da literatura”, conta Pedro.

O cineasta diz que tem gente que acredita que o brasileiro lê, mas ele próprio tem lá suas dúvidas. “Quem lê, lê muito. Mas pesquisas afirmam que lemos menos de dois livros por ano. É muito pouco”, explica. Sem leitores, as livrarias vão fechando. E, sem livrarias, os livreiros não têm mais onde trabalhar. E mais uma profissão chega ao fim.

Segundo Pedro, o fenômeno de extinção dos livreiros é uma forma de enxergar claramente o fim de uma era. E seu documentário se propõe a olhar também o que vem acontecendo ao redor. “Os copistas, que copiavam livros na Idade Média, tinham a profissão dos sonhos, eram bem remunerados e mantinham um status na sociedade. Achavam que haveria trabalho para sempre, que nunca acabaria. Mas acabou. O mesmo vem acontecendo com os livreiros, e falar só do fim da profissão não é suficiente. É preciso falar do que vem acontecendo ao redor”, conta o cineasta.

Para entender o que é o cenário da literatura em Brasília hoje, o documentário já entrevistou gente como o senador e ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB) Cristovam Buarque, o editor Victor Alegria e o escritor e jornalista Maurício Melo Júnior, entre outras pessoas relacionadas ao mundo da literatura. Como o documentário é um gênero que não precisa de tempo limitado para ser lançado, Pedro explica que as gravações devem ser finalizadas até dezembro deste ano. O filme segue, então, para o processo de montagem e edição, e deve ficar pronto até meados de 2016.

Do papel à tinta eletrônica

Um dos grandes desafios que os livros impressos, as livrarias e os livreiros enfrentam é a ascensão do e-book. A maioria dos livros lançados vêm em edição virtual e, se conseguem ser impressos, ainda sofrem com o baixo número de cópias. Também não há muito interesse por parte da indústria editorial de republicar grandes clássicos, com centenas de páginas. “Proliferam-se os livros de autoajuda, que vendem que nem chiclete. Mas a obra que te fortalece, te acrescenta, que te põe para pensar acaba nos sebos. Não sei se há interesse das editoras em republicar, em novas edições, esses clássicos”, afirma Pedro.

E, para o cineasta, esta mania moderna de ter tudo no computador ou na nuvem é um risco para a memória. Ele lembra que, antigamente, se guardou a vida em disquete. Fotos, documentos, poesias. Hoje, é difícil encontrar uma máquina que leia o dispositivo, e, no passar de uma mídia para a outra, a história se perde. “Quem escreve um livro hoje pode passar pelo mesmo problema no futuro. Daqui a 30 anos, onde você vai plugar o seu pendrive ou HD? Como vai recuperar o seu livro? Mesmo assim, não posso afirmar, com toda a certeza, que a publicação de livros vai acabar. Mas meu coração diz que sim”, afirma.

Na luz jogada sobre a situação do livro na vida moderna, os livreiros entrevistados, apesar de enxergarem o mundo que viveram desabar aos poucos, continuam com uma visão romântica da literatura. Acreditam que o livro impresso vai continuar forte, vai continuar vendendo, não vai perder para as versões digitais. “Mas a vida dele mudou, a livraria faliu, a produção de livros diminuiu. Por paixão, por amor, porém, ele se recusa a acreditar no fim.”

 

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