Com a bagagem de uma cultura que é referência no Ocidente, eles vieram para erguer sonhos. Há 50 anos, chegavam os primeiros imigrantes gregos a Brasília em busca de uma vida melhor. Hoje, a comunidade é de quase 3 mil pessoas e está na quarta geração no Distrito Federal. Para comemorar as origens, fortalecer raízes e agregar brasilienses à diversidade da Grécia, a comunidade grega de Brasília apresenta o Festival de Cultura Helênica. A comemoração começa amanhã e reúne atividades ligadas a cinema, fotografia, balé, arte, brincadeiras para crianças e festa típica.
O presidente da Comunidade Grega de Brasília, Dionyzio Klavdvianos, 51 anos, explica que os conterrâneos começaram a chegar antes de 1960 para a construção de Brasília. Muitos deles participaram do início da cidade. ;A contribuição dos gregos remonta à época da construção da cidade. Terminada a Segunda Guerra Mundial, a Grécia viveu um período de divisão esquerda e direita que empobreceu o país. Cerca de 25% da população foi embora, porque senão morria de fome. Muitos vieram para a América Latina, para países como Argentina, Uruguai, Chile e Brasil, tentar a vida mantendo a tradição;, explica.
Sem conhecer a língua portuguesa, Konstantinos Epaminondas Karagiannis, 83 anos, se lançou ao desafio do contato com o público. Em 1960, quando chegou à cidade, começou a vender roupas nos canteiros de obra. ;Não tinha muita coisa na cidade, só tinha obra. Vendia calças, camisas, sapatos. Não vendia roupas femininas, porque quase não tinha mulher aqui;, conta. Depois, montou um armazém. ;Por causa da dificuldade com a língua portuguesa, eu atendia o cliente apontando para os produtos. Depois, o filho de um vizinho passou a me ajudar no atendimento;, lembra. A escolha pela atividade comercial foi um caminho natural. ;Não conseguia emprego como funcionário, então tive que partir para o próprio negócio;, diz.
Tradições mantidas
A valorização da cultura é muito forte entre os integrantes da comunidade grega. Em casa, Lukiane Rodopoulos costumava conversar em grego com o marido. Além disso, filhos e netos se reúnem para dançar. ;Até hoje a gente dança lá em casa;, diz. Ela se mudou para o DF também por ocasião da construção da cidade. Ela e o marido abriram a primeira serralheria da capital, no Núcleo Bandeirante. ;Era um tempo muito difícil, não tinha nem Lago Paranoá naquela época;, garante. Décadas depois, o sentimento que fica em relação à cidade que a acolheu é de gratidão: ;A gente tem orgulho e muita gratidão de ter visto a cidade nascer;.
A comunidade grega é uma das poucas agremiações estrangeiras a ter sede, de acordo com o presidente da instituição. Klavidyanos relembra que, no início, a maioria dos gregos não falava o idioma. ;Eram pessoas pobres que conseguiram criar uma vida com os brasileiros. Estamos na quarta geração e o nosso propósito é manter viva a tradição, cultura e religião grega. A nossa sede é um ponto de união. No início, ficávamos em uma estrutura provisória no Núcleo Bandeirante, mas depois conseguimos um local na Asa Norte, onde estamos até hoje;, destacou.
De forma geral, quem frequenta a comunidade são os próprios descendentes. O grupo decidiu criar um festival da cultura grega para abrir o espaço à comunidade de Brasília. Eles se reúnem na igreja, em datas cívicas, mas querem agregar um novo público. ;Queremos fazer mais, trazer a comunidade de Brasília e oferecer mais atrativo às pessoas da terceira e quarta gerações. Quem mais participa são os da primeira e da segunda geração. São entre 400 e 500 pessoas que têm uma ligação mais forte com a comunidade. Elas estão espalhadas na área central de Brasília e em regiões administrativas, a maioria em Taguatinga, pela questão do comércio;, conta.
A abertura do festival será às 19h30, no auditório da Livraria Cultura no Casa Park. Em datas específicas (Veja quadro), até o fim de semana de 2 e 3 de outubro, o evento reúne espetáculo, dança, filme, documentário e cultura grega. A atividade que mais mobiliza os descendentes é a tradicional festa no primeiro fim de semana de outubro. ;Esperamos pelo menos 1 mil pessoas a cada dia. O evento está causando adrenalina, porque é a primeira vez que fazemos;, ressaltou Klavdvianos.
Programação
Abertura do Festival de Cultura Helênica
Quando: 1; de setembro
Horário: às 19h30
Onde: auditório da Livraria
Cultura no Casa Park
Ciclo de cinema grego
Às quartas-feiras, às 19h, com entrada franca
2 de setembro
Exibição do filme Noivas, do diretor Pantelis Voulgaris
9 de setembro
Exibição de Elektra, de Michael Kakgiannis
16 de setembro
Exibição de Meteora, de Spiros Stathoulopoulos
23 de setembro
Exibição de A eternidade e um dia, de Theo Anguelopoulos
30 de setembro
Exibição de Tempero da vida, de Tassos Boulmetis
Exibição do documentário A noite em que Fernando Pessoa encontrou Konstantino Kaváfis
Ciclo de palestras
Conversas helênicas
26 de setembro, às 16h
10 de setembro
Mito e contemporaneidade, com Stylianos Tsirakis, editor da Odysseus Editora e estudioso da cultura clássica
17 de setembro
A invenção de Orfeu, com Ordep Serra, antropólogo e escritor, membro da Academia de Letras da Bahia
24 de setembro
Olhares sobre a Grécia Antiga, com Maria Antonieta de Souza Oliveira, professora de história clássica do Unieub
Exposição fotográfica
Os argonautas do Cerrado
De 15 a 30 de setembro, no Casa Park, de segunda a sábado, das 10h às 22h, e domingos, das 14h às 20h
Sarau literário - O espírito helênico - poesia e música
Quando: 19 de setembro
Horário: às 16h
Local: auditório da Livraria Cultura
Oficina de mitologia para crianças
Quando: 5 de setembro
Horário: às 16h
Local: auditório da Livraria Cultura
Festa Tradicional Grega
Quando: 2 e 3 de outubro
Local: sede da Comunidade Grega de Brasília, na 910 Norte, Módulo B
Horário: das 20h às 2h
Ingressos: R$ 20
Informações: por meio do telefone
3447-9059 ou pelo e-mail comunidadegrega@terra.com.br