Jornal Correio Braziliense

Cidades

Funções social e econômica do metrô foram ignoradas, aponta estudo

O projeto sugere a instalação de quiosques comerciais, a existência de barracões comunitários, espaços culturais, centros de comercialização, centros de orientação empresarial, salas para cursos e oficinas



Em 2012, o departamento de transportes da Universidade de Brasília (UnB) entregou à então presidência do Metrô um projeto intitulado Centros de Dinamização Metrô-Cidade, com sugestões para aproveitar o potencial do metrô como polarizador do desenvolvimento e sua vocação de receber equipamentos urbanos de cunho econômico e social para atendimento das comunidades locais. ;No Brasil, as estações são esses equipamentos grandiosos que só servem para a população entrar e sair. Na França, centros de negócios funcionam no metrô e ajudaram a revitalizar as áreas. No Japão, também há vários usos. Os Centros de Dinamização Metrô-Cidade constituem alternativas viáveis e factíveis de se alterar esta relação, estabelecendo as condições necessárias para a fixação da população em regiões mais próximas ao seu local de residência;, explica o professor da Universidade de Brasília (UnB), doutor em urbanismo e especialista em planejamento de transportes, José Augusto Fortes.

O projeto sugere a instalação de quiosques comerciais, por meio de parceria público-privada, a existência de barracões comunitários (para realização de atividades produtivas em cooperativas), espaços culturais movimentados, centros de comercialização, centros de orientação empresarial, salas para cursos e oficinas, além de outras atividades. ;Nós falamos não apenas em engenharia civil, mas em engenharia civilizada. O metrô traz desenvolvimento e valoriza os imóveis ao redor, mas isso também afasta a população mais pobre para cada vez mais longe desse meio de transporte e do centro. Isso gera maior necessidade de deslocamento para quem tem menos poder aquisitivo e piora o trânsito. Portanto, a função social do metrô deve ser levada em consideração, com oferecimento de formação profissional e oferta de empregos, prioritariamente para os moradores mais carentes da região;, afirma Fortes.

Uma dissertação de mestrado da UnB, assinada por Camila de Carvalho e orientada por Fortes, analisou o conflito entre o sistema de transporte público de Samambaia e as necessidades de deslocamento da população local. Após ouvir mais de 2 mil residentes da região, o estudo chegou à conclusão de que só 5% deles priorizavam o uso do metrô. ;A distância entre as estações, a falta de integração e a demora de chegada entre um trem e outro foram apontadas como problemas pelos moradores da cidade. Muitos deles levavam até 60 minutos para chegar a uma estação e até 2h30 para ir ao Plano Piloto, um dos destinos mais comuns;, descreve a mestra em transportes Camila de Carvalho.

Usuários do transporte público, como o vigilante Ilton Marques, 52 anos, morador de Samambaia, poderiam ser beneficiados com projetos de socialização do metrô. Ele usa esse sistema diariamente, mas não mora próximo à estação, pois o aluguel é mais caro. Trabalha na Asa Norte, onde os trens não chegam, e usa a bicicleta para completar os trechos que precisam de integração. Marques pedala quase uma hora por dia, entre ida e vinda do trabalho, mas não se queixa da distância, apenas da insegurança no trajeto.

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