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A exuberante caravela, réplica dos tempos do descobrimento do Brasil, ancorada no Lago Paranoá, teve seus tempos de glória. Hoje, não passa de quase 40 toneladas de madeira degradada, parte submersa no fundo do lago. Sem incentivos para trazer o patrimônio de volta à ativa, o dono, o empresário Thiago Luz, 33 anos, lança o barco à venda. Entre as ideias do próprio vendedor está a possibilidade de transformar a caravela em uma casa ou em um restaurante fora da água.
A sugestão não é tão inovadora. O poeta chileno Pablo Neruda, por exemplo, teve uma residência que era um barco. Foi construída com detalhes e arquitetura inspirados no tema. Já a caravela brasiliense tem três andares, um quarto com suíte, dois banheiros e cozinha, além de uma grande área aberta, na frente do barco e em cima dele.
Quando estava ;em forma;, o barco conquistava à primeira vista. Decorado, mobiliado e pomposo. Serviu de palco para muitos eventos em Brasília. Boa parte, casamentos. Muitas noivas chegavam de lancha e usavam a estrutura para embelezar o ambiente. No entanto, a caravela está sem uso há pelo menos dois anos. Por conta do vento na região onde está ancorado, perto do Minas Tênis Clube, o cais não aguentou o peso, e parte da estrutura do barco afundou. A embarcação ainda precisa de uma boa reforma para funcionar. Apesar de não ter valor sentimental, o dono avalia vendê-lo por R$ 200 mil. ;Esse tipo de madeira não existe mais e, para fazer uma estrutura como essa, qualquer um gastaria milhões;, avalia Thiago.
A história desse monumento flutuante é antiga. Pertencia ao escritor, poeta, professor, advogado e ex-deputado federal Océlio de Medeiros. Ele era do Acre e morreu em 2008, aos 94 anos. Amante declarado da Amazônia brasileira, construiu a caravela em comemoração aos 500 anos do Brasil. Era no barco que o poeta passeava com frequência pelo Lago Paranoá. Mas Océlio decidiu vender a embarcação. Thiago comprou e começou a reformá-la quase na mesma época do desastre com o barco Imagination, que afundou no lago em 2011, deixando nove mortos. ;Eu investi cerca de R$ 170 mil. Trouxe carpinteiros navais do Pará para fazer o serviço. Fizemos calafetação (tapar ou vedar com estopa frestas ou buracos em embarcações), reformamos tudo, mas, por causa do desastre, mudamos o foco. Decidimos investir em um bar ancorado, com cervejas especiais.;
TentativasA ideia, no entanto, não deu certo. Depois, foram várias as tentativas de emplacar a participação do barco em eventos próximos à beira do lago. A embarcação ficou ancorada por um bom tempo na marina do Clube do Senado Federal, onde servia de camarote para algumas festas. Também era local de encontro aos sábados, no mesmo endereço, para uma feijoada com vista para o Lago Paranoá. Mas o local era muito aberto, o que prejudicava o movimento em época de chuva. A caravela foi usada pela última vez há quase dois anos, quando estava na estrutura do Caribeño Boate Bar e Restaurante, uma casa de eventos no Trecho 1 do Setor de Clubes Sul. O espaço era alugado por uma média de R$ 3 mil. Deck e caravela, juntos. De novo, não deu certo.
;Se eu quisesse reformar de novo, como é preciso, não teria uma marina que poderia usar, um cais público para deixar enquanto o serviço é feito, e ainda corro o risco de ser punido por estar invadindo alguma área. Apesar do potencial turístico, não temos nenhum incentivo;, critica Thiago, que, hoje, paga o aluguel de uma marina para guardar o barco.
De acordo com a Secretaria de Turismo do Distrito Federal, de fato, não existem marinas públicas no Lago Paranoá. Um projeto de viabilização de espaços públicos na orla será debatido em breve, dentro do Projeto Orla, uma das prioridades do governador Rodrigo Rollemberg. ;Enquanto isso, as pessoas podem vir até a secretaria e apresentar seus projetos. Nesse caso específico (da caravela), o que podemos é tentar conseguir um espaço para abrigar uma possível reforma, mas sabemos da importância de se discutir políticas públicas para o setor;, justifica a subsecretária de Produtos e Serviços Turísticos da pasta, Caetana Franarin.
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