O primeiro semestre deste ano termina com um balanço preocupante na área de trânsito. Pelo menos 8 mil motoristas foram pegos pela fiscalização enquanto dirigiam alcoolizados. Isso representa cerca de 80% de todas as autuações do ano passado e dá uma média diária de 45 casos. Nem mesmo em 2008, auge da lei seca ; e das blitzes ;, o número foi tão alto. Mais que uma infração de trânsito, a combinação álcool e volante mata. A vítima mais recente do descaso com a vida alheia foi Wanessa Gyovanna Borges da Costa, 18 anos. Na noite de sábado, ela foi atropelada por Luiz Lene Pereira de Souza, um consultor de 36 anos, que estava alcoolizado e fugiu do local sem prestar socorro.
A família da jovem está em choque. Parentes e amigos prestaram as últimas homenagens a ela na tarde de ontem, no Cemitério Campo da Esperança, onde ocorreu o enterro. O motoboy Laércio Pereira dos Santos, 46, tio de Wanessa, disse que a mãe da garota está sob efeito de medicação. ;Minha irmã está acabada. Ninguém espera por uma coisa dessa. Ele (motorista) tem que pagar pelo que fez. E deve ser proibido de dirigir. Senão, vai sair, beber, dirigir e matar de novo;, defende.
A identificação do autor do crime se deu de forma rápida porque uma testemunha seguiu o carro até o Setor Habitacional Lúcio Costa, anotou a placa e avisou à polícia. Luiz Lene recusou-se a fazer o teste do bafômetro e foi levado ao Instituto de Medicina Legal (IML), onde o médico atestou a embriaguez. Acabou preso em flagrante e indiciado por homicídio culposo na direção de veículo ; sem intenção de matar ;, com agravamento de pena por não ter prestado socorro e estar sob efeito de álcool. Em casos semelhantes, é recorrente o entendimento da autoridade policial de que o acusado, ao dirigir alcoolizado, assumiu o risco de matar e, portanto, deve responder por homicídio com dolo eventual.
Ainda no domingo, o juiz plantão da André Ferreira de Brito, da Vara Criminal e do Tribunal do Júri do Guará, converteu, de ofício, a prisão em flagrante de Luiz Lene em preventiva. Na decisão, o magistrado entendeu que tal procedimento se faz necessário pela ;gravidade concreta do crime e comportamento do indiciado;.
Desrespeito
No primeiro semestre deste ano, houve um crescimento considerável da quantidade de condutores flagrados em irregularidades no trânsito. Balanço do Departamento de Trânsito (Detran) a que o Correio teve acesso com exclusividade revela aumento de 43,3% na quantidade de motoristas presos em flagrante por crime de dirigir alcoolizado. O número de veículos apreendidos por diferentes razões aumentou 28,7%. Assim como as autuações por embriaguez ao volante. Nesse caso, somente o Detran notificou 3.611 condutores (61,5%) e levou para a delegacia 1.021 (43,3%).
Os números são um comparativo do primeiro semestre deste ano com o mesmo período do ano passado e dizem respeito às autuações feitas somente pelo Detran-DF, ou seja, não incluem as infrações flagradas pela Polícia Militar, pela Polícia Rodoviária Federal e pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER). Apenas os 8 mil casos de motoristas bêbados citados no início da reportagem reúnem os dados de todos os órgãos de fiscalização do DF.
A boa notícia é que, após ter fechado 2014 com aumento de acidentes fatais e mortos no trânsito, o primeiro semestre deste ano aponta queda nos registros. O número de fatalidades reduziu 11,6%, e a quantidade de vítimas mortas caiu 17,8%. Para o diretor-geral do Detran, Jayme Amorim, o resultado positivo se deve ao aumento da fiscalização e dos investimentos em educação e engenharia. ;Este ano, retomamos a campanha Paz no Trânsito. No primeiro semestre, ampliamos em 84,2% os recursos aplicados em educação. Vamos chegar a R$ 34 milhões até o fim do ano;, promete.
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