postado em 20/07/2015 06:05
Assim que chegou à sala de ensaios, no último sábado, Paulo Betti foi rodeado pelos adolescentes protagonistas do espetáculo Meninos da guerra, que entra em cartaz esta semana, no Sesc da Ceilândia. ;Imita o Téo Pereira!”, ;como você entrou na Globo?;, ;você é amigo de muitos famosos?;, escutou dos jovens, que ficaram logo animados com a presença ilustre.
Ao ser informado sobre a natureza e o conteúdo da peça, o artista fez questão de conferir o trabalho. No palco, adolescentes de Ceilândia acostumados a viver à beira da marginalidade. Todos chegaram a morar nas ruas e a maioria teve contato com drogas. Muitos desconhecem o paradeiro da família. Alguns são órfãos, vítimas da violência urbana. Os relatos impressionam e, na maior parte dos casos, repetem-se: ;Fui abusada pelo meu padrasto;, ;já fui jogado de ponte por policiais;, ;tive que roubar para conseguir comida;, ;vi minha mãe morrer;.
E são essas histórias que eles levam aos palcos com o auxílio dos diretores Carlos Laredo e José Regino, codireção da atriz e mestranda em artes cênicas Livia Fernandez e produção da experiente Clarice Cardell. A dramaturgia elaborada faz do espetáculo uma denúncia contra o abandono de crianças e jovens no Distrito Federal, que registra mais de 5 mil adolescentes cumprindo medidas socioeducativas. Atento a cada uma das cenas, Paulo Betti se emocionou. ;É importante termos projetos assim, que tragam esse senso de humanidade à plateia. Fiquei surpreso com o talento deles, atores natos;, elogiou o veterano artista, em entrevista ao Correio, que acompanhou o ensaio com exclusividade.
Teatro vivo
Ao comentar o processo cênico de Meninos da guerra, Paulo chamou a atenção para a ;acertada construção dramatúrgica; e classificou a iniciativa como um exemplo de ;teatro vivo;. ;A força do discurso e a maneira como os depoimentos foram transpostos trazem esse elemento de vivacidade. Fico me perguntando se a minha peça é capaz de tamanha expressão;, questionou o ator, que acaba de encerrar uma bem-sucedida temporada brasiliense de Autobiografia autorizada. No monólogo, ele revive a juventude e celebra os 40 anos de carreira, que o tornaram um dos mais celebrados nomes da cultura nacional.
[SAIBAMAIS];A participação do Paulo foi muito produtiva. Por um lado, uma motivação especial para os meninos, que o reconhecem da televisão. Por outro, criou-se um clima de estreia. Todos ficaram focados em dar o melhor de si, em provocar uma experiência positiva para o convidado;, afirmou a produtora Clarice Cardell, que ressaltou a dificuldade enfrentada ao longo desses meses de preparo: ;Estamos lidando com jovens que ainda estão expostos às mazelas sociais. Um dos garotos foi assassinado no processo. Outra desapareceu. Hoje mesmo, um deles me ligou dizendo que atrasaria pois tinha sido abordado por policiais durante o trajeto. A presença do Paulo não deixa de ser uma maneira de eles se sentirem reconhecidos;.
E o ator não decepcionou. Ao final do ensaio, cumprimentou cada um dos integrantes do elenco e distribuiu elogios. Em uma conversa dirigida a todos, enalteceu o desempenho do grupo, a cenografia, a trilha sonora (composta pelo rapper Gog) e a ;coragem de se fazer teatro para valer;. Depois, como esperado, posou para inúmeras fotos e garantiu o sorriso daqueles jovens atores, prestes a estrear.