Jornal Correio Braziliense

Cidades

Casa de Parto de São Sebastião só vai atender grávidas da região

Partos humanizados realizados no local só serão possíveis para mulheres que fizeram acompanhamento na cidade



Diferente dos hospitais, a unidade de São Sebastião autoriza a entrada da doula - profissional responsável por dar suporte emocional à gestante antes, durante e depois do parto. Para Vanessa, o trabalho da doula é imprescindível durante a gravidez e, principalmente, no trabalho de parto. ;A presença da dela é fundamental para que a nossa vontade seja respeitada. Além de passar todas as informações, ela transmite tranquilidade e sabe o que bebê e mãe precisam;, comenta. A professora afirma também não ter condições para arcar com os custos de um parto humanizado em um hospital particular.

A doula Vanja Mendes concorda com a gestante e acredita que as pessoas vão ficar desiludidas porque não podem pagar um parto domiciliar em Brasília. ;Essa ainda é a realidade da classe média e alta", explica a doula. "O que me preocupa é que as mulheres passem a ficar mais tempo sozinhas em casa durante o trabalho de parto e, com isso, aumente o número de partos domiciliares desassistidos", completou.

Apesar de a Casa de Parto de São Sebastião estar a 22 quilômetros do centro de Brasília, cerca de 40% das mulheres que procuram o atendimento são de outras cidades. Criada em 2009, a unidade possui apenas três salas de parto, o que limita o atendimento. Em média, 35 mulheres dão à luz no local todos os meses, de acordo com SES-DF.

Ainda segundo a SES-DF, ao menos 1.857 bebês nasceram na Casa de Parto entre entre 2009 e 2014. No primeiro ano, foram 221 partos, enquanto que no último o número cresceu 92%, chegando a 425. Com o aumento da demanda, o Hospital Regional do Paranoá - para onde as grávidas são encaminhadas caso tenham complicações durante o parto em São Sebastião - estava se queixando de superlotação. Questionada pelo Correio, a Secretaria de Saúde diz que o número não é expressivo. "É baixo se comparado com os demais hospitais da rede. Em Ceilândia, por exemplo, nascem, em média, 30 bebês por dia", informa em nota. A secretaria argumenta que a limitação é em cumprimento da norma estabelecida em 2014.

Casas de Parto
Atualmente a rede pública de saúde do Brasil tem 18 casas de parto - local onde são feitos apenas partos naturais e humanizados, estabelecido pelo portaria n; 985/99 do Ministério da Saúde. Elas devem ficar nas dependências internas ou externas dos hospitais, no segundo caso, a uma distância de, no máximo, 200 metros. Nelas trabalham apenas enfermeiros obstetras e técnicos de enfermagem, que oferecem acompanhamento e assistência em tempo integral. O objetivo é incentivar o parto normal humanizado, reduzir a taxa de mortalidade materna e as ocorrências de cesarianas desnecessárias na rede pública.

A auxiliar administrativa Ellana Cardoso, 30 anos, que teve uma experiência traumática no parto da primeira filha, conta que estava decidida a ter a segunda em um parto humanizado, em São Sebastião. Iniciou o pré-natal em hospitais particulares e, segundo ela, sempre que manifestava vontade de fazer o parto humanizado, os médicos diziam que faziam parto normal. "Mas eles só fariam se eu pagasse por fora, entre R$ 4 mil e R$ 6 mil, e que se eu não quisesse, poderia ir atrás de outro médico;, lembra. A auxiliar administrativa ainda se consultou com outros dois médicos particulares e teve a mesma resposta.

Na busca pelo parto humanizado, quando estava com oito semanas de gravidez, uma amiga comentou sobre a Casa de Parto de São Sebastião. Após algumas visitas com o marido, Ellana deu início ao pré-natal no posto de saúde do Guará II, onde vive, e, em fevereiro deste ano, acompanhada da mãe, deu à luz na unidade.