Jornal Correio Braziliense

Cidades

Projeto leva palhaços para alegrar crianças internadas no HRAN

Intenção é percorrer 15 hospitais públicos do DF e, depois, os particulares. Além das brincadeiras, são encenados contos do livro De grão em grão, de Adriano Siri

Onze meses de idade. Um pé miúdo, as pernas arqueadas. A pequena Maria* é uma criança conhecida na pediatria do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Ela entra e sai da unidade de saúde com frequência. Ontem, os singelos gestos da menina emocionaram quem estava no quarto. ;Fico emocionada, porque ela liberou um sorriso, algo raro de acontecer;, conta, com os olhos cheios de lágrimas, a mãe social da menina. O motivo do riso foi a visita de dois palhaços, Eita e Reinecken, integrantes do projeto De grão em grão.

Maria* nasceu prematura e com má-formação no corpo. Não sabe o que é se alimentar, pois, desde que veio ao mundo, come por meio de uma sonda. Ela foi encaminhada para uma instituição de acolhimento. Desta vez, chegou à unidade de saúde na última sexta-feira. Ontem, a pequena surpreendeu a todos com um olhar alegre e curioso. Ao tentar imitar as caras e bocas de Eita e Reinecken, Maria aprendeu uma utilidade da língua.

;Por mais que a gente se prepare, a gente não deve deixar o emocional transparecer. É difícil;, comenta Eita. Para a intérprete da palhaça, Renata Cardoso, 39 anos, o contato com Estefany foi o momento mais marcante da manhã. Pela primeira vez, ela se vestiu com sapatos grandes e nariz vermelho. ;Era uma expectativa muito grande, uma ansiedade enorme. Agora, fica aquela sensação de dever cumprido, mesmo que tenha sido apenas o primeiro dia;, afirma. Ela e Gustavo Reinecken, 35 anos, espalharam cores, suspiros e risos pelo Hran. Os dois andaram pelas alas de internação, do Pronto de Socorro e da Pediatria.

No caminho, não deixaram escapar médicos, enfermeiros, nutricionistas ou funcionários. Gustavo já trabalhou no hospital, então, os funcionários o conhecem. Teve até a oportunidade para uma partida de tênis de mesa imaginária com um segurança. ;Nosso trabalho não é parodiar a figura do médico ou das doenças. Queremos trazer a ideia do palhaço de rua para o ambiente hospitalar. Temos consciência de que não estamos aqui para curar e, sim, para criar um clima mais agradável;, explica o rapaz, que faz esse tipo de trabalho voluntário há seis anos. Na manhã de ontem, também não faltou a clássica selfie. Primeiro, com a máquina de brinquedo dos atores. Depois, com a dos pacientes que paravam Eita e Reinecken para tirar uma foto.

Contar histórias
Gustavo foi convidado pela atriz Adriana dos Santos Nunes, 45 anos, idealizadora do projeto De grão em grão e integrante do grupo de humor Os Melhores do Mundo, para fazer a consultoria e a direção dos palhaços. Adriana, depois de 25 anos de teatro e televisão, decidiu levar o sorriso para um lugar diferente, onde não fosse cobrado nada por ele. ;Sempre fui muito ligada à literatura infantil, então, uni os trabalhos. Sabemos que, nos hospitais, as crianças estão muito fragilizadas. Assim, podemos mudar um pouco a realidade delas e quebrar a rotina. Afinal, o que fica de tudo na vida são a lembrança e a alegria;, afirma a atriz.

*Nome fictício

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