Jornal Correio Braziliense

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Seis 'hits sindicalistas' para perturbar e não deixar o servidor trabalhar

Conversamos com os representantes sindicais e eles garantem: a música precisa grudar nos ouvidos para aumentar a adesão aos protestos

Quem trabalha próximo a algum órgão público, com um sindicato que aderiu a uma greve, provavelmente já se deparou com a seguinte situação: várias horas ininterruptas de uma seleção de músicas em looping e em volume ensurdecedor. O objetivo é simples: fazer com que os funcionários não consigam trabalhar e acabem aderindo ao movimento, segundo os próprios membros de sindicatos e donos de carros de som.

Uma situação igual a essa se repete há cinco dias no Fórum do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), no Setor de Indústrias Gráficas (SIG), onde o Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário e do Ministério Público da União no DF (Sindjus) alugou um carro de som para integrar o movimento pelo reajuste do plano de cargos e salários. Desde a última terça-feira (9/6), os funcionários são desafiados a trabalhar ao som das músicas ;Florentina; e ;Índia;, cantadas por Tiririca.

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Uma funcionária do fórum do Tribunal de Justiça do DF, que preferiu não se identificar, disse ser muito complicado trabalhar com a música alta todos os dias, mas tenta como pode. "Tem que abstrair, ainda mais porque eu trabalho com documentos e preciso ter muita concentração, mas é por uma boa causa".


O vendedor de água de coco Aluísio Gonçalves da Silva trabalha em frente ao fórum há 18 anos e, segundo ele, sempre que tem greve é assim. "Eu passei o sábado e o domingo com a música Índia na cabeça. Não dá para esquecer", brinca.

A música é para perturbar, mas o volume máximo não pode passar dos 65 decibéis, de acordo com o gerente comercial de uma empresa que presta o serviço em Brasília. Marcos Popovidis considera o mercado bom, mas a concorrência é grande, inclusive com o serviço irregular. "Nós fazemos tudo dentro das normas e emitimos nota fiscal", ressaltou. O aluguel de um carro de som custa, em média, R$ 450 por dia.

Representantes de outros sindicatos com atuação em Brasília dizem que o repertório é diversificado e influenciado pelo objetivo do protesto e do público-alvo.

As músicas mais pedidas pelos sindicatos são:

Admirável gado novo (Zé Ramalho)
A música do paraibano Zé Ramalho foi composta em 1980 e faz alusão aos trabalhadores que se esforçam mais do que os patrões estão dispostos a pagar. Nos primeiros versos é possível perceber o tom de protesto com:

"Vocês que fazem parte dessa massa
Que passa nos projetos do futuro
É duro tanto ter que caminhar e dar muito mais do que receber
E ter que demonstrar sua coragem à margem do que possa parecer
E ver que toda essa engrenagem já sente a ferrugem lhe comer. Êh, oô, vida de gado".

Índia
Cantada pelo humorista Tiririca nos protestos, ;Índia; é uma sátira à música original, composta por Cascatinha e Inhana em 1952 - também interpretada por Roberto Carlos. A letra tem quatro estrofes com características de uma índia, bem diferente da cantada por Tiririca que, por três minutos canta apenas:
"Índia seus cabelos
Índia seus cabelos
Índia seus cabelos
Índia seus cabelos."

Fixação - Kid Abelha

Assim como o nome da música do trio dos anos 1980 sugere, a canção de 1984 fixa na cabeça dos manifestantes com o refrão:
"Fixação, seus olhos no retrato
Fixação, minha assombração
Fixação, fantasmas no meu quarto."

Primeiros erros, Capital Inicial
Composta por Kiko Zambianchi no início dos anos 2000, a música é uma das mais populares do grupo brasiliense. "Primeiros Erros" não tem o mesmo apelo de protesto das outras, mas é escolhida para agradar o público, como explicou a Central Única de Trabalhadores (CUT):"Se um dia eu pudesse ver
Meu passado inteiro
E fizesse parar de chover
Nos primeiros erros
Meu corpo viraria sol
Minha mente viraria sol
Mas só chove, chove."

Apesar de você, Chico Buarque
A canção de protesto ao regime militar vivido no Brasil foi escrita entre 1969 e 1970. Apesar de, claramente, fazer uma alusão negativa ao presidente Emílio Garrastazu Médici, Chico sustenta ser apenas uma referência à situação vivida durante a ditadura.

Sorte Grande, Ivete Sangalo
Durante os protestos, o que mais se repete na música da baiana Ivete Sangalo é a introdução e o refrão:
"A minha sorte grande foi você cair do céu
Minha paixão verdadeira...
Viver a emoção, ganhar teu coração
Pra ser feliz a vida inteira".