Jornal Correio Braziliense

Cidades

Jovens são agredidos gratuitamente e, em alguns casos, chegam a morrer

Esta semana, o Tribunal do Júri mandou para a cadeia os carrascos de um professor que apanhou em um shopping. O Correio mostra, hoje e amanhã, histórias de pessoas que sofreram ataques


A face violenta do brasiliense, em agressões gratuitas, dilacera famílias e dizima vidas. Na adolescência, a intolerância acaba em pancadaria no Parque da Cidade, na porta dos colégios ou nas praças. Na juventude e vida adulta, o palco para a selvageria são as saídas de shows, festas e boates. A vítima mais recente é o estudante de engenharia civil Ramez Farah Neto, 18 anos, agredido fora de uma festa por um lutador jiu-jítsu. Os golpes o deixaram na UTI por 13 dias. Ramez entrou para a lista na qual estão os nomes de Lucas Silva Lopes Xavier, João Cláudio Cardoso Leal e Marco Antônio Velasco e Pontes, entre tantos outros. Alguns deles acabaram mortos. Diante dessa realidade, um desafio: como disseminar uma cultura de paz? Para especialistas ouvidos pelo Correio, a situação envolve ações governamentais, da Justiça e da sociedade.

Esta semana, os acusados de agredirem o professor de educação física Lucas Silva Lopes Xavier, 27 anos, foram condenados por tentativa de homicídio triplamente qualificado a períodos que vão de 9 a 12 anos. Eles podem recorrer. ;A condenação representa um grande alívio inicial para a família. Mas não encerra a discussão;, afirma Leonardo Thompson Flores, advogado de Lucas. Atualmente, o jovem está com a face e o lado esquerdo do corpo paralisados. Ele foi espancado, em 2014, após pedir a Yago Barboza Ferreira da Silva, 21, e a Matheus Phanta Junges Borgmann Rodrigues da Silva, 20, que não urinassem em público em um shopping da Asa Sul.



Superar agressões brutais, como as que têm ocorrido frequentemente no DF, é um desafio difícil de ser vencido por familiares de vítimas mortas ou sobreviventes, explica a psicóloga especialista em trauma e luto Sueli Guimarães. ;Quem passa por uma situação de violência proposital, como o caso do espancamento, precisa ter o apoio de médico e parentes.;

Para Sueli, o esquecimento é algo impossível para as vítimas. Principalmente quando o que separa a vida da morte pode ser contado em 1,5cm. Caso de Ramez Farah Neto. Segundo explicaram os médicos, se o chute na cabeça do jovem tivesse afundado o cérebro um pouco mais, ele teria morrido. Ramez permaneceu internado na UTI por 13 dias, após apanhar de Patrick Bentim Rosa, 26. O crime está enquadrado, até o momento, como tentativa de homicídio. A família quer a condenação. ;Quero que os pais de outros jovens não passem por isso. As pessoas se especializam em bater e fazem isso sem a preocupação com a vida humana. Temos que evitar novos casos;, acredita o empresário Lutfallah Farah, pai do jovem. Ramez foi agredido na saída de uma festa, em 16 de maio. O motivo da confusão seria um desentendimento iniciado no evento.

Lembranças amargas
Há casos em que a selvageria deixa marcas indeléveis. Pais de João Cláudio Cardoso Leal, o economista André Luís e a secretária executiva Silvana foram obrigados a conviver com a perda do filho. Em 2000, o jovem morreu espancado por quatro rapazes na saída de uma casa noturna. O luto da família está prestes a completar 15 anos e os pais do jovem, ambos de 58 anos, contam que os carrascos do filho estão livres. Cumpriram apenas seis anos da pena. ;Essa questão não tem ligação com políticas públicas, mas, sim, com a maldade gratuita. Os agressores pensam que vão bater e ficar impunes. Hoje, tocamos a vida e andamos para a frente, mas tenho uma saudade tremenda do meu filho;, desabafa André Luís.

A dor de ter um filho morto covardemente é sentida até hoje por Silvana. Ela guarda na memória o horror vivido naquele dia. Ela estava em Aracaju e pegou o primeiro voo para Brasília após o marido dizer que o filho tinha ;sofrido um acidente;. Quando ela chegou, o rapaz estava morto. ;Até hoje tenho sequelas muito profundas por ter perdido meu filho tão cedo. Depois disso, tive muitas alegrias, mas esse vazio nunca foi preenchido;, garante a avó de três netos.

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