Jacqueline Saraiva
postado em 08/04/2015 14:47
As consequências do câncer chegam sempre como um grande bloco de concreto na autoestima dos pacientes, embora tratamentos sejam cada vez mais humanizados e eficazes, assim como a conscientização da população contra a doença. Muitos ficam depressivos ao ver a própria imagem debilitada no espelho. Na eminência da queda dos pelos no corpo, especialmente dos cabelos, não há palavras suficientes para consolá-los. Gestos de solidariedade, no entanto, têm amenizado o sofrimento de quem luta pela cura. É o que voluntários têm feito para resgatar a alegria dos pacientes, doando o próprio cabelo, na tentativa de fazer o diferencial na cura deles.Estudante de psicologia, Érica Rodrigues, 21 anos, participou de um seminário sobre a doença na faculdade, quando sentiu vontade de doar o próprio cabelo. Ela partilhou a ideia com a amiga Neide Cunha, 45, que ficou ainda mais empolgada. Moradoras do Parque Industrial Mingone, em Luziânia, as duas resolveram organizar um evento para atrair mais voluntários, no último mês. ;Reunimos um grupo de amigas e convidamos cabeleireiras do bairro para fazerem o corte coletivo, além de usar o tempo para conversar sobre o tema. Conseguimos outras doações diretamente em salões de beleza aqui da cidade;, conta a jovem.
A ideia da dupla rendeu 39 tufos de cabelos, 18 deles doados por outros donos de salões de Luziânia. ;Foi uma experiência muito boa. Quando me perguntam por que eu cortei o cabelo ou como tive coragem de fazer isso eu apenas respondo que o meu cabelo está fazendo sucesso na cabeça de outra pessoa;, brinca a estudante. Segundo Neide Cunha, que é professora, a repercussão foi tamanha que até hoje, os vizinhos e conhecidos delas continuam a mandar mais cabelos para a casa dela. As doações foram encaminhadas para o Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) que também conta com voluntariado para a confecção de perucas. ;O melhor é a doação das pessoas. Não só do cabelo, mas a doação do trabalho também;, comenta.
Solidariedade faz a diferença
Na capital federal, vários salões de beleza oferecem espaço e tempo para cortar os cabelos de voluntários. São ao menos quatro estabelecimentos credenciados no Sindicato dos Salões de Beleza, Barbeiros, Cabeleireiros e Profissionais Autônomos na Área de Beleza do Distrito Federal (Sincaab-DF). Há ações realizadas em datas específicas no ano, como no dia da mulher e em outubro, mês dedicado à conscientização da prevenção do câncer de mama. No entanto, esses e outros salões pela cidade estão sempre dispostos a oferecer o corte, em qualquer época, para quem doa as mechas para o trabalho social.
A cabeleireira Dorine Campelo, 59 anos, dedica grande parte do tempo livre no trabalho como voluntária da Associação Brasileira de Assistência às Famílias de Crianças Portadoras de Câncer e Hemopatias (Abrace). Começou fazendo uma peruca para ajudar uma cliente que havia perdido os cabelos durante o tratamento, há cinco anos. Desde então não parou mais. À instituição filantrópica cabe a missão de receber as doações de cabelos vindas de salões de beleza ou dos próprios voluntários. Todo o material, conseguido com ajuda ou a preço de custo, é repassado para Dorine, que fica com a parte artesanal. A profissional mora em Samambaia, mas conta que passa a semana toda no local de trabalho, dividida entre o atendimento aos clientes e à produção das perucas. ;É difícil juntar as duas coisas. Muitas clientes até reclamam, mas eu digo que é minha missão fazer essas perucas para doação. Chego a compensar o dia gasto trabalhando à noite. Esqueço do tempo, da hora de dormir, mas é o que amo fazer;, conta emocionada.
Em geral, as perucas são produzidas para crianças, mas os voluntários ajudam pessoas de quaisquer idades. Além das doações dos tufos, os cabeleireiros contam com a ajuda dos próprios clientes ou de empresas privadas para fornecer ou ajudar a comprar as toucas de renda, linhas, suportes e escovas, para que os pacientes façam a manutenção do produto. ;É um trabalho de formiguinha, mas dá certo;, diz Dorine.
Para cada peruca, são necessários, em média, dez metros de cabelo costurado, dependendo do tipo de penteado. Os fios, que chegam unidos por elásticos ou tranças, são separados por tamanho e cores. Encaracolados, lisos, com mechas, até mesmo curtinhos: tudo é aproveitado. Em cada trabalho, os voluntários buscam se aproximar o máximo possível de um penteado natural. Os fios são costurados em uma tampa padrão ou conforme o tamanho da cabeça de quem for usar. Depois de pronta, a peruca é ainda colocada na cabeça de um manequim, para as melhorias finais. ;O mais gratificante é o brilho nos olhos, a emoção de quem tem a autoestima restaurada. Vou continuar este trabalho até o fim da vida;, afirma a cabeleireira. Quando o cabelo do paciente volta a crescer é possível repassar a peruca para outra pessoa e, assim, manter a corrente de doações.
#ForçaNaPrevenção
Ações em todo o país lembram a importância da prevenção do câncer e a sensibilização da sociedade sobre o cuidado e respeito com os pacientes. Nesta quarta-feira (8/4), dia em que é celebrado o Dia Mundial do Combate ao Câncer, uma mobilização é lançada nas redes sociais. Intitulada ;Força na prevenção - não dê chance ao câncer: cuide-se;, a ação social pede que as pessoas postem fotos usando perucas coloridas e as identifiquem com #forçanaprevenção e convidar ao menos três amigos a aderirem à campanha. No site da campanha também há a possibilidade de escolher um modelo virtual de peruca para adicionar a uma foto. Na página, as pessoas podem conferir ainda as informações sobre dez dos principais tipos de câncer: mama, próstata, pele, colorretal, colo do útero, linfomas, leucemias, estômago, pulmão e testículo.
Mal constante
O Dia do Combate ao Câncer foi criado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para alertar a população e ajudar a disseminar informações sobre a doença. O câncer apresenta diferentes fatores de risco, o que não implica que a ocorrência de um ou vários signifique a existência da doença. Especialistas ressaltam a importância da prevenção e do diagnóstico precoce, para que o paciente tenha mais chances de cura. Alguns fatores não podem ser alterados, como a genética. Outros, relacionados a comportamentos pessoais, envelhecimento ou estilo de vida, podem ser evitados.
Saiba onde cortar e/ou doar o cabelo
; Djalma Cabelereiros
(61) 3381-4688
; Fátima de Oliveira
(61) 3345-4611
; Hélio Diff
(61) 3364-2000
; Roberta Andrade
(61) 3242-4770
Informe-se
; Central de doações da Abrace
(61) 3212-6000
; Rede Feminina de Combate ao Câncer de Brasília
(61) 8180-5125
; Associação Brasiliense de Apoio ao Paciente com Câncer (Abac-Luz)
(61) 3343-2412
Fonte: Sicaab-DF