postado em 15/03/2015 08:01
De um lado, moradores e ambientalistas. Do outro, produtores rurais e empresários. Dilemas como este se repetem em casos nos quais o esforço por preservar a natureza se coloca diante do interesse de expansão. O palco é a Chapada dos Veadeiros, a cerca de 200km de Brasília. A elaboração de um plano de manejo para a Área de Proteção Ambiental (APA) do Pouso Alto ; que engloba seis municípios goianos próximos à reserva ecológica ; divide a comunidade local. Um dos pontos mais polêmicos do projeto é a construção de sete pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) no Rio Tocantinzinho, que poderiam mudar a paisagem de forma irreversível. Quem vive da atividade turística na região teme o impacto das obras para as belezas naturais.
O projeto das PCHs, orçado em um R$ 1 bilhão, foi apresentado pela empresa goiana Rialma, que começou a fazer estudos em 2000. Ainda não existe autorização oficial ou data definida para o início do empreendimento, mas a possibilidade de a iniciativa ser levada adiante gera preocupação. Várias partes ao longo do Rio Tocantinzinho ; que teria a largura de 70m aumentada para 200m ; seriam alagadas para receber as hidrelétricas. Isso poderia causar o desaparecimento de reservas ambientais particulares de patrimônio natural (RPPNs), como Pedra Bonita. Grandes porções de cerrado ficariam debaixo d;água, como o Vale do Rio São Miguel, um dos córregos do Tocantinzinho. Sobre a nascente menor ficam o Vale da Lua e a Cachoeira do Segredo, que poderiam ser prejudicadas indiretamente.
Uma das belezas naturais que mais sofreriam com as obras é o Encontro das Águas, em Colinas do Sul. O lugar, ponto de convergência entre os rios Tocantinzinho e São Miguel, ficaria submerso. Em alta temporada, uma média de 500 visitantes diários passam pelo local. O terreno pertence a uma família que mora na propriedade há quatro gerações. ;Quase toda a nossa renda vem do turismo. Ficamos sabendo que, se construírem mesmo as PCHs, até a nossa casa será alagada e teremos de nos mudar;, lamenta Marcos Vinícius Maria do Rosario, 20 anos, neto do dono das terras. Quando ouviram falar pela primeira vez das hidrelétricas, em 2001, começaram um abaixo-assinado contra a construção do empreendimento. O documento conta com cerca de 24 mil assinaturas.
Como a família de Vinícius, boa parte dos moradores da região da Chapada vivem do turismo, principalmente em Cavalcante, São João d;Aliança e Alto Paraíso. Aristeia Avelino, 49 anos, é dona de uma pousada e restaurante em uma das vilas que integram o último município, o Distrito de São Jorge. Filha de garimpeiros, passou a vida no local e presenciou a cidade ser transformada graças à movimentação econômica trazida pelos visitantes. ;Teve uma época em que os moradores não tinham nem energia elétrica. O recente desenvolvimento foi muito bom, mas temos medo de que o plano de manejo coloque em risco os destinos turísticos que contribuem para nossa sobrevivência;, diz. Para ela, a falta de transparência das autoridades a respeito das hidrelétricas é o mais alarmante.
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