Daqui a menos de um mês, Brasília ressurgirá no circuito das exposições internacionais de um modo diferente das outras vezes em que o projeto de Lucio Costa foi exposto a um grande público. O sítio moderno vinha sendo execrado pelo olhar estrangeiro desde a inauguração, em 1960. A cidade simbolizou, pormeio século, o fracasso do urbanismo moderno. Há bem pouco tempo, esse epíteto tem se dissolvido graças à evidente demonstração de que a capital funciona, a despeito das sucessivas negligências de gestão, e produziu uma geração de brasilienses apaixonados por ela. O divisor de águas deverá surgir em território nova-iorquino, na mostra América Latina em Construção: Arquitetura 1955-1980, a primeira grande apresentação, nos últimos 60 anos, do projeto modernista brasileiro no contexto americano. Será a maior exposição sobre arquitetura latino-americana da história do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). A mostra começa em 29 de março e vai até 19 de julho. O curador, Barry Bergdoll, avisa que os visitantes não verão o que esperam e que os organizadores serão acusados de idealizar a América Latina. Também declara o quanto gosta do projeto de Lucio Costa. Em entrevista ao Correio, ele expõe as razões do apreço.
Entrevista com Barry BergdollO senhor esteve em Brasília em 2009 para uma palestra na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília. Foi a primeira vez que veio à cidade? Que impressões teve?Sou da geração que foi ensinada firmemente que Brasília era um exemplo de que o modelo modernista de urbanização havia chegado ao limite e falhado na obsessão em acomodar carros e em criar um ambiente propício para o dia a dia dos pedestres. Livros tratam a Esplanada dos Ministérios como o epítome de Brasília, da mesma forma que o National Mall, em Washington, constitui a essência de uma capital planejada. Sim, foi minha primeira visita e fiquei encantado com Brasília na época. Diferentemente do que pensava, encontrei uma cidade vibrante, repleta de atividades, variedades e cultura urbana apenas meio século após a construção. É, evidentemente, uma cultura urbana diferente daquela do Rio de Janeiro, São Paulo ou Nova York, mas é uma cultura vibrante. Além da brilhante arquitetura de Niemeyer nos ministérios, o que mais me surpreendeu foi descobrir as superquadras e a incrível integração de monumentalidade e intimidade, o uso sutil das paisagens que subordinam os carros e o estar em casa, em um bloco ou um bairro, as áreas verdes entrelaçando a rua e os apartamentos.
Em entrevista a um jornal brasileiro, o senhor declarou que ;Lucio Costa é um gênio, a superquadra é uma invenção incrível e Brasília é muito bem-sucedida;. É um ponto de vista diferente do predominante na crítica internacional desde a construção da capital. O que houve?Como disse, acho o manejamento dos carros algo magistral, as sutis mudanças de níveis, que deixam os veículos ligeiramente submersos, de forma como raramente é visto nas habitações modernas. Os prédios não estão perdidos em um mar de estacionamentos, em um primeiro plano repleto de carros. As vistas das janelas nos blocos não são as dos estacionamentos. Há espaços muito bem usados nas superquadras, e mesmo os comércios passaram do fundo para a frente a fim de criar uma situação altamente urbana.
Por que Lucio Costa é um gênio?Além das superquadras, ele foi um pensador brilhante, um modernista flexível que abraçou não só a exploração de novas formas, espaços e tecnologias, como também manteve uma definição histórica muito definida e preciosa da preservação da perspectiva. Costa é o pai de gêmeos que sempre mantiveram um diálogo afetuoso e criativo: arquitetura moderna e redescoberta do passado.
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