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Ministério Público vai apurar postura de PMs em acidente na BR-020

Os militares aparecem em gravação zombando das vítimas de uma colisão após perseguição policial. Em um dos trechos, o profissional diz: "Deixa essa desgraça morrer. Morre, desgraça"

A Promotoria de Justiça Militar do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) acompanhará o inquérito policial militar aberto pela corporação para investigar a conduta dos PMs brasilienses durante o atendimento a um acidente de trânsito fatal na BR-020. Na tarde de ontem, o promotor Nísio Tostes se reuniu com o corregedor-geral adjunto da PMDF, coronel Josué Oliveira, para tratar da apuração. Ambos analisaram os vídeos, nos quais policiais do DF e de Goiás debocham das vítimas da colisão.



Em uma das gravações, de 16 segundos, é possível ouvir militares com o uniforme da PMDF zombando de Welington de Santana Ferreira, 12 anos, uma das cinco vítimas do acidente ocorrido após uma perseguição policial: ;Morre com dignidade;, diz um deles. Em outro vídeo, de 2 minutos e 8 segundos, aparecem PMs do DF e de Goiás. É possível escutar um deles dizendo: ;Deixa essa desgraça morrer. Morre, desgraça;. Os jovens seguiam em um veículo com placa clonada e roubado em Valparaíso.
[SAIBAMAIS]
Na manhã de ontem, familiares dos jovens mortos fecharam a BR-020, na altura de Planaltina, para protestar contra a atitude dos militares. Com cartazes e faixas, eles pediram a investigação da conduta dos policiais. Se, por acaso, o inquérito concluir que houve omissão de socorro por parte dos PMs, o caso será encaminhado à Justiça comum de Goiás, uma vez que o acidente aconteceu nas proximidades de Formosa (GO). Se for identificado um crime militar, os envolvidos responderão na Justiça Militar de cada unidade federativa. Além disso, eles podem ser acusados internamente por infração administrativa.

Segundo Tostes, o caso é complexo, uma vez que envolve militares do Distrito Federal e de Goiás. ;Tem de ser analisado exatamente o que houve, se eles chamaram o Corpo de Bombeiros ou o Samu, situação que envolve a prestação de socorro. Se o pedido não aconteceu, será necessário analisar a eventual omissão;, esclareceu. ;Mas o que mais afeta são as palavras proferidas pelos policiais e determinadas expressões de insensibilidade, que não é o que a PM prega;, acrescentou.

Circunstâncias
Segundo Tostes, a reunião com o coronel Josué Oliveira teve o intuito de discutir medidas a serem adotadas no inquérito que corre em sigilo. ;É importante deixar claro que não foram os policiais causadores da morte e do acidente, mas é necessário investigar quem fez o quê, já que há o envolvimento de policiais militares de Goiás, comprovado com a chamada no rádio pelo Centro de Operações da Polícia Militar (Copom), em Goiás. No DF, usa-se a Central Integrada de Atendimento e Despacho (Ciade);, ressaltou.

O corregedor-geral adjunto da PMDF explicou que, em um primeiro momento, não é possível identificar os autores do deboche. ;Não sabemos quais foram as circunstâncias, mas, independentemente da situação, isso não é o que a PM orienta e ensina aos policiais. Se for identificado algum crime, se estabelecerão as sanções cabíveis;, explicou.

A PM de Goiás também analisa o caso. O chefe da assessoria de Comunicação, major Geraldo Pascoal, disse que a corporação avalia a situação e busca documentos para o inquérito. O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa, Ricardo Vale (PT), pediu explicações sobre o episódio à Secretaria de Segurança Pública do DF.
Colaborou Arthur Paganini