Autointitulado o maior colecionador de cachaça do Centro-Oeste, o aposentado Sebastião Augusto Machado, 72 anos, diverte-se dentro de um de seus refúgios, um pequeno depósito transformado numa gruta de tesouros. Em infinitas prateleiras, armários e suportes, o quarto guarda os xodós de Sebastião: mais de 5 mil garrafas de cachaça nacional. Apesar da falta de registros que possam comprovar o título, tudo indica que ele é mesmo o maior colecionador da região ; e até do Brasil. Na Confraria da Cachaça do Brasil, não há ninguém com essa quantidade de garrafas; no site do Museu da Cachaça, no qual se pode informar o tamanho da coleção, nove pessoas afirmam ter mais de 3 mil exemplares.
Para o aposentado, cada garrafa representa muito mais do que uma simples bebida. ;Tem muita coisa bonita por trás da cachaça. Cada uma (garrafa) tem uma história surpreendente;, afirma. Entre elas, porém, uma tem o enredo mais importante, que se mistura à história do próprio Sebastião.
Tudo começou no velório de um tio, em 1997. Em conversa com um primo, descobriu que faria o inventário do parente sem cobrar nada da tia viúva, de olho em uma recompensa maior. Intrigado, Sebastião descobriu que a ;recompensa; se tratava de uma garrafa de cachaça produzida por ele e pelo tio em 1957, na fazenda da família, em Ouro Fino. Nesse momento, Sebastião conta que se tornou um concorrente do primo. ;Não era pela bebida em si, porque eu nunca gostei muito de beber, mas pela história dela. Poxa, eu tinha ajudado a fazer aquela cachaça;, conta.
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Meses depois, Sebastião sondou a tia e afirmou que, se ela fosse vender a cachaça, pagaria qualquer valor; se fosse dá-la, ele era o primeiro da fila. A resposta foi, em parte, decepcionante. Com um ;tá bom;, a tia encerrou o assunto. Sebastião, sem jeito, nunca mais mencionou a garrafa, mas continuava com expectativas. Seis anos depois, em uma visita à fazenda da família, ganhou o tão sonhado presente.
No carro, com a marcha engatada e pronto para ir embora, chamou o primo concorrente e disse que tinha algo para mostrar, pela janela do carro. Orgulhoso, exibiu a garrafa e acelerou o veículo. ;Ele usou todos os palavrões do mundo para me xingar, eu ri muito e ele ficou indignado.; Para não causar uma briga na família, os primos firmaram um acordo, só beberiam a cachaça juntos, em ocasiões especiais da família.
Chegando em casa com a nova aquisição, posicionou a garrafa no escritório, em meio aos livros. ;Achei aquilo estranho, não combinava. Comprei mais algumas garrafas para colocar tudo junto e acabei me encantando;, conta. O espaço ficou pequeno, a adega ganhou uma extensão e, hoje, Sebastião pensa em construir uma nova área no quintal só para a coleção. Já pela metade, a primeira garrafa ocupa lugar de honra. Em uma mesinha no meio da sala das cachaças, repousa em um suporte de madeira, aguardando por novas comemorações familiares.
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