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A cada três chuvas, uma irá deixar a Asa Norte alagada, afirma especialista

A convite do Correio, engenheiro ambiental percorreu a Asa Norte e mostra, no mapa interativo, os principais pontos de recorrentes alagamentos

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;Por ano, a cada três chuvas, ao menos uma vai deixar a Asa Norte alagada". A avaliação, do engenheiro ambiental Pedro Batista, foi comprovada depois das três horas de chuva registrada nessa terça-feira (16/12) no Distrito Federal. Das 21h até a meia-noite, foram registrados 142 milímetros de chuva na estação do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), próximo à 511 da Asa Norte. O volume de água neste ponto corresponde a mais da metade esperada para todo o mês de dezembro, uma média de 246mm.



A convite do Correio, Batista percorreu a Asa Norte e mostra, no mapa interativo, os principais pontos de recorrentes alagamentos. O mesmo problema não ocorre na Asa Sul, mais plana, porque a grande área verde do Parque da Cidade absorve o volume da chuva.

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O engenheiro abordou as inundações em dissertação de mestrado da Universidade de Brasília (UnB). No estudo, Batista classificou a falta de manutenção da drenagem pluvial como principal fator dos alagamentos. O especialista mapeou, com base em análises de reportagens do Correio, 385 pontos de alagamentos e inundações no DF, dos quais se destacaram a via de acesso a Vicente Pires, na Estrada Parque Taguatinga (EPTG); e nas tesourinhas na Asa Norte ; 201/202; 209/210; 211/212 e 215/216. A 511 Norte também foi referenciada no trabalho como a que foi palco dos piores episódios de alagamento de 1999 a 2013.

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[SAIBAMAIS]Para o professor Newton Moreira de Souza do Departamento de Engenharia Civil da UnB, a chave para resolver o problema é a manutenção constante dos sistemas de drenagem e a conscientização da população. ;Além dos reparos, é preciso alertar os moradores e empresários para o destino final de sobras e terras em áreas de construção. Esses ;entulhos; podem acabar obstruindo os bueiros;, completa.

Apesar dos constantes alagamento das vias, a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap) informou que começou uma operação para limpar as bocas de lobo, podar as árvores, recolher as folhas secas, galhos e retirar resíduos na rede de águas pluviais. Ainda de acordo com a empresa pública, ao menos 10 toneladas diárias de lixo são retiradas dos bueiros.

Bueiros
O professor Sérgio Koide, especialista em recursos hídricos e política ambiental da UnB, conta que além de ter atenção aos resíduos que caem nas tubulações, há medidas práticas que podem ajudar a escoar as águas das chuvas. ;Cortar a grama e diminuir a altura do meio fio ajudam as águas a chegar às áreas verdes que absorvem esse excesso ajudando a evitar os alagamentos;, explica.

No entanto, o especialista também alerta que é preciso expandir as bocas de lobo das quadras mais problemáticas para conseguir mais escoamento. ;As tubulações são antigas, algumas são estreitas e não suportam a grande quantidade de água. Na inauguração da capital, o problema não era tão perceptível. Hoje, com o aumento populacional, a questão foi multiplicada;, diz Koide. Seguindo este ponto de vista, a Novacap também acredita que a solução está no reforço das galerias de águas pluviais.

Projeto parado

De acordo com o Programa Águas do DF, de custo estimado em R$ 350 milhões, será redimensionada toda a rede pluvial das quadras 100 a 900, com finais 1, 2, 10 e 11, da Asa Norte; e das quadras com final 13, na Asa Sul. Segundo o projeto, bacias de detenção e filtros serão construídos para reter resíduos sólidos para que não passem para o Lago Paranoá.

Apesar do projeto ter sido publicado no Diário Oficial do Distrito Federal em 7 de novembro de 2012, a concorrência para execução do programa foi suspensa pelo Tribunal de Contas do Distrito Federal em 28 de fevereiro de 2013, devido a ações movidas por empresas que não foram pré-qualificadas. Isso paralisou o prosseguimento da licitação em mais de um ano.

Diante do impasse, a equipe de transição do governador eleito Rodrigo Rollemberg afirma que tem analisado todas as alternativas possíveis para garantir melhorias no sistema de drenagem de todo o Distrito federal. No entanto, a assessoria reconhece que ainda não tem conhecimento suficiente sobre o projeto Águas do DF.

Objetivos do programa
- Eliminar os pontos críticos de alagamentos em áreas urbanas no Plano Piloto e em Taguatinga: aumentar as galerias pluviais para receber mais água das chuvas sem transbordar;

- Construir bacias de detenção para filtrar a águas que chega no Lago Paranoá. Assim, a água das chuvas entra na boca de lobo, percorre as galerias pluviais, vai para as galerias de detenção para ser filtrada e segue para o Lago Paranoá