Jornal Correio Braziliense

Cidades

O perfil migratório do Distrito Federal mudou

Jovens com alto nível de escolaridade e boa renda familiar buscam na capital oportunidades de emprego no serviço público

Historicamente conhecido por atrair pessoas de regiões menos abastadas, principalmente de oferta de emprego, em maior parte do Nordeste brasileiro, o DF passou a ser interessante para um outro tipo de população. São jovens, de 18 a 29 anos, com alto nível de escolaridade, boa renda familiar e vindos de grandes centros como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. A mudança se estende também aos emigrantes. Acostumado a receber mais do que expulsar, o DF começa a perceber a perda de uma parcela da população que tem baixa escolaridade e não consegue mais arcar com os altos custos de vida da capital do Brasil.

As constatações foram feitas pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) depois de comparar o perfil dessa movimentação entre 1995 e 2010. Tanto nos períodos entre 1995/2000 e 2005/2010, Rio, São Paulo e Minas foram os que mais contribuíram com imigrantes de alta escolaridade. Há duas semanas em Brasília, a paulista Luciana Trindade Nemeth, 29 anos, tinha a opção de trabalhar em São Paulo, sua cidade, no entanto, escolheu o DF. "O fato de ser em Brasília foi determinante para que eu mandasse o currículo", conta.



Luciana é formada em comunicação, fez mestrado na Espanha, morou e trabalhou nos últimos 12 meses na Argentina e, agora, escolheu o DF para ficar. "Mandei o currículo sem nunca ter vindo em Brasília, acreditei que seria um bom lugar e se fosse para ficar em São Paulo, teria pensado duas vezes", explica a jovem, que está morando em uma quitinete na Asa Norte.

Segundo o presidente da Codeplan, Júlio Miragaya, a assessora representa a mudança no perfil de interessados na capital federal. "Não é mais aquele imigrante tradicional, que vem do semi-árido do Nordeste, isso caiu muito, e por mais que ainda venham pessoas do Nordeste, elas estão sendo substituídas por esse perfil de melhor renda e escolaridade, de outras regiões do país", explica Miragaya. Um dos principais atrativos ainda é o serviço público, onde está a maior concentração de imigrantes, seguido de comércio e serviços domésticos.

Em números absolutos, o DF teve 162 mil imigrantes, entre 1995 e 2000. Número maior do que o registrado entre 2005 e 2010, quando menos pessoas vieram para o DF ; 154 mil. Apesar da queda, o presidente da Codeplan afirma que a quantidade não é significante e está proporcional a queda de emigrantes: no período de 1995 a 2000, foram 134 mil, enquanto de 2005 a 2010, 127 mil pessoas deixaram o DF para morar em outras cidades. E o perfil dessa fatia da população também é destaque do estudo divulgado ontem. Quem optou por deixar a capital tem renda e escolaridade baixa. Para a Codeplan, retrata um comportamento de emigração motivado pelo alto custo de vida do DF. Muitas vezes, a pessoas nem se afasta muito do DF, e acaba escolhendo regiões conhecidas por serem cidades dormitórios, e até mesmo estados vizinhos, como o Goiás.