, as propagandas só podem ser exibidas em vias públicas das 6h às 22h. Em média, ele trabalha 8 horas por dia.
Para se preparar para o período eleitoral e estar totalmente disponível para o serviço, Weslley pediu recesso da loja de material de construção em que é sócio para poder trabalhar integralmente nas divulgações da campanha. Ele desconversa sobre o valor que recebe para atuar na campanha, mas revela que "vale muito a pena". "Recebo auxílio combustível e alimentação também", acrescenta, "mas apesar desses benefícios, jamais trabalharia com um candidato que não tenha um pensamento político coerente, tenho ideais e valores que defendo, política pra mim é coisa séria, somente pelo dinheiro não dá". Weslley é graduado em programação de computadores e faz a segunda graduação em Arquitetura e Urbanismo. Esta é a terceira vez que ele trabalha em uma campanha eleitoral.
Diferente de Weslley, Azarias André é um novato entre os cabo eleitorais. Após ser convidado para atuar na campanha de um distrital, ele não pensou duas vezes e largou o antigo trabalho de educador social para receber, durante um período de dois meses, um salário de R$ 1,3 mil, mais auxílio transporte e alimentação. Em troca, ele assumiu a responsabilidade da divulgação e panfletagem das propagandas do candidato.
O estudante Arthur Henrique também resolveu aproveitar as férias da faculdade para trabalhar como coordenador de campanha de candidato a deputado distrital. Durante seis horas por dia, o cabo eleitoral teve a missão de vigiar a equipe de divulgação de panfletos, além de cuidar das placas e bandeiras espalhadas pelas ruas do Guará I. Durante os 25 dias de trabalho, Arthur recebeu R$ 32 reais por dia, além de vale-transporte e vale-refeição no valor de R$ 300. Apesar do trabalho cansativo, não se arrepende. ;Gostei, foi uma experiência nova, nunca tinha trabalhado nessa área;, assumiu.
Fora do mercado há algum tempo, Mariana (nome fictício) aceitou trabalhar pela primeira vez como cabo eleitoral na campanha de um candidato a deputado federal. Seu trabalho é vigiar os cavaletes e impedir que eles sejam derrubados ou retirados por cabos de candidatos concorrente. No entanto, ao contrário de outros cabos que recebem dinheiro ou até mesmo cesta básica em troca do trabalho temporário, a moradora da Ceilândia pediu para o candidato financiar um megahair, um tipo de aplique de cabelo. Mariana não quis comentar o valor da aplicação e afirmou que aceitou o trabalho porque não demanda muito esforço. "Panfletar é trabalho e dinheiro fácil", opinou. Salões do Plano Piloto cobram entre R$ 276 a R$ 1,6 mil por um megahair.
No entanto, quem trabalha com esse tipo de tarefa diz que a atividade não é tão fácil como parece. Além do sol e da chuva, cabos eleitorais relatam que precisam enfrentar diariamente o contato com adversários de outros partidos. Segundo eles, os concorrentes costumam rasgar e derrubar os cavaletes de candidatos adversários. ;Em todas as cidades existe uma guerra de cavaletes. Eles (partido eleitoral) nos orientam para não gerarmos conflitos, pena que nem todos os candidatos agem assim;, informou Weslley. A aposentada Francisca Costa conta que ajudou, ainda durante a campanha de 2010, uma colega com entrega de panfletos na Ceilândia e sofreu com ameaças dos moradores da região que apoiavam um candidato adversário. ;Eles chegaram brigando na tenda em que estávamos e formos obrigados a sair correndo para não sermos agredidos;, lembra.
O perfil dos cabos eleitorais varia entre desempregados, autônomos a estudantes e até donos de pequenos comércio que dão uma pausa nos negócios para ganhar um dinheiro extra durante esse período. Dos 10 trabalhadores entrevistados pelo Correio, sete estão trabalhando nas campanhas eleitorais pensando, no futuro, em conseguir um emprego fixo. ;O deputado não garantiu nada, mas assim que ele for eleito espero que se lembre de mim;, diz Heraldo Gomes. Aos 53 anos, o morador de Santa Maria foi convidado para ajudar como voluntário na campanha de um candidato distrital. ;Nós nos conhecemos há muitos anos e o meu trabalho não atrapalha a nossa amizade. Recebo o suficiente para me alimentar e me locomover pela a cidade;, afirma.
O artigo 100 da Lei 9.504 - que estabelece normas para as eleições- define que a contratação de pessoal para prestação de serviços nas campanhas eleitorais não gera vínculo com o candidato ou com partido. No entanto, a advogada trabalhista Vivian Simões Falcão Alvim Oliveira alerta para o período de início e término do trabalho durante a campanha. ;É preciso atentar para o fato de que, se a relação de trabalho se der em data anterior ao registro da candidatura, o vínculo laboral deverá ser reconhecido pela Justiça do Trabalho;, disse.