Jornal Correio Braziliense

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No auge da seca, preço de umidificador pode variar até 109% no DF

Item bastante procurado pelos brasilienses, o aparelho pode ser encontrado de R$ 124 até R$ 259,70

Assim como as temperaturas médias na capital federal, a procura por alguns itens ;de sobrevivência; à estiagem aumentam e, como consequência, os preços afetam o bolso do consumidor. O alerta é dado quase todos os dias desde o início do período de seca no Distrito Federal: beber líquidos, usar roupas leves, caprichar no bloqueador solar e tantos outros cuidados. O calor e a secura castigam, mas seguir essas recomendações à risca tem sido um verdadeiro desafio para os brasilienses. Entre os campeões para sobreviver à seca, segundo o Instituto Fecomércio, da Federação do Comércio do Distrito Federal, estão os umidificadores. Para amenizar os efeitos da falta de chuva, a corrida às farmácias em busca desses aparelhos é quase uma tradição. Nos meses de junho a agosto a venda aumentou 80%. ;Isso ocorre todos os anos e o aumento nas vendas acompanha o quadro. São inerentes ao período de seca esses problemas respiratórios. Todos nós enfrentamos isso e o comércio, consequentemente, fica aquecido;, afirmou o presidente da Fecomércio, Adelmir Santana. E mesmo sem inflação em alta - o DF registrou deflação de 0,23% no mês de julho e, no acumulado dos últimos 12 meses, o índice está em 5,91%, abaixo da média brasileira, 6,5%, de acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ; a população sente os aumentos nos preços. E a diferença varia bastante nas farmácias de uma cidade para outra. Um umidificador de uma marca tradicional, vendido em muitas farmácias, é encontrado por, no mínimo, R$ 124, conforme pesquisa do Correio Braziliense em vários estabelecimentos da capital federal. No entanto, o mesmo aparelho pode ser encontrado por até R$ 259,70, uma variação de 109%. ;Independentemente da situação econômica, a questão é a sobrevivência. As pessoas precisam da ajuda do aparelho e, tendo oferta e procura, algumas empresas aproveitam para elevar os preços, mesmo que não haja reajuste;, explicou Santana. Confira a variação de preços nas cinco cidades mais populosas do DF: Média entre cidades = R$ 179,72 A pesquisa foi realizada nas cinco cidades mais populosas do Distrito Federal, de acordo com a Codeplan. A cidade de Taguatinga registrou a menor média de preços, com aparelhos a R$ 148,29. A maior média foi registrada em Samambaia, onde os consumidores encontram o produto a R$ 207,05. Na comparação entre as cinco cidades, o umidificador sai a R$ 179,72. O preço mínimo, de R$ 124, foi encontrado em duas cidades: Taguatinga e Ceilândia. Nesta, além do Plano Piloto, os clientes tiveram que desembolsar o maior valor, de R$ 259,70. Há cerca de dois anos, a servidora pública Luana Paula Lima, 30 anos, a as enteadas Beatriz, de dois anos, e Valentina, 3, enfrentam sérios problemas respiratórios durante a estiagem no DF. ;Esse ano mesmo, em curto espaço de tempo, tive duas crises longas de tosse, junto com crise de sinusite e amigdalite. A Bia teve pneumonia três vezes seguidas e chegou a ficar internada por quatro dias;, lamentou. A funcionária pública disse que toma cuiados, como beber bastante água, colocar baldes de água ou toalhas molhadas pela casa, mas ainda não tinha pensado em comprar um umidificador. Questionada se valeria a pena pagar mais de R$ 200 pelo eletrodoméstico, ela avalia: ;É um produto importante, mas por esse valor, com todas as despesas que já tenho no mês, vou preferir a toalha molhada mesmo;, brinca. Inflação A tendência de aumento de preços pode ser confirmada de acordo com alguns itens pesquisados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Os de saúde e cuidados pessoais, por exemplo, registraram uma das maiores altas em julho, 0,50%, de acordo com a análise da Companhia de Planejamento do DF (Codeplan). O grupo de Habitação também teve aumento, de 1,20%, estimulado pela elevação da energia elétrica (%2b4,52%), com impacto de 0,12 ponto percentual. O grupo Artigos de Residência foi outro destaque, com %2b0,86%, impactado, entre outros, pelo aumento em eletrodomésticos (%2b1,83%). É fato que, com o tempo seco e abafado, agravado ainda mais pelas constantes queimadas, os brasilienses ainda sofrem muito nesse período do ano. Não só umidificadores, mas a procura também é crescente por itens como colírio, xarope para tosse, remédio para dor de cabeça, além de produtos para a pele. Segundo o Fecomércio, a procura por hidrantes para a pele teve aumento de mais de 50%, e a de remédios para o sistema respiratório, 40%. Segundo o coordenador do Núcleo de Análise de Preços da Codeplan, Newton Marques, a seca não influenciou muito a inflação em julho, mas sim em agosto, quando houve agravamento das condições climáticas. ;Seca severa e queimadas, por exemplos, são fatores que podem contribuir para isso. A produção agropecuária, por exemplo, está em um bom momento de plantio e com excesso de produtos em estoque, à espera de preços melhores. Mas se a terra fica mais seca, os agricultores vão demandar mais água para irrigação e, em consequência, mais energia elétrica. São custos que fazem diferença na hora de vender;, explicou.