As marcas de tiro nas placas de sinalização são uma espécie de aviso aos moradores da Vila Dnocs. Trata-se de apenas uma das várias formas usadas pelos traficantes para calar quem ousa denunciar o forte comércio de drogas no setor localizado às margens da BR-020, em Sobradinho. Audaciosos, os bandidos se estruturaram de tal forma que passaram a demonstrar força enfrentando policiais em meio às vielas. Há cerca de um ano, um veículo da Polícia Militar foi baleado durante uma troca de tiros. Recentemente, um outro carro da corporação acabou apedrejado.
Na edição de ontem, o Correio mostrou que os criminosos expulsaram de suas casas pelo menos três famílias. Acusados de serem colaboradores das forças de segurança, homens, mulheres e crianças tiveram de abandonar os imóveis com a roupa do corpo para não serem assassinados. Quem viveu o pesadelo de deixar tudo para trás por ordem do tráfico revela que as lideranças criminosas no setor têm todas menos de 18 anos. Impressão comprovada por números da Secretaria de Segurança Pública do DF. Dos 13 flagrantes de tráfico na Vila Dnocs neste ano, 11 são adolescentes. No mesmo período de 2013, foram seis jovens apreendidos.
Na noite da última quinta-feira, a reportagem presenciou jovens usando crack e maconha nas esquinas do setor. É justamente no momento em que a luz do Sol vai embora que eles saem às ruas. Depois dos episódios das expulsões das famílias, o 13; Batalhão da PM de Sobradinho implementou uma base de patrulhamento comunitário na entrada da vila. Mas a van da PM fica, no máximo, até as 20h. Sem a presença policial, o mercado do crack, da cocaína e da maconha ganha força.
Por não concordar com o comércio de entorpecentes na porta de casa, Caio (nome fictício), 25 anos, quase morreu. Cansado de chegar do trabalho e se deparar com viciados acendendo pedras, o jovem ousou reclamar com um dos adolescentes responsáveis pelo tráfico. O bate-boca evoluiu para o embate físico. Caio teria acertado um soco no garoto. Ganhou a briga, mas perdeu a liberdade. No outro dia, a mãe dele recebeu o recado de que todos na casa estavam marcados para morrer.
Desesperada, a mulher não permitiu que o filho voltasse do trabalho. Reuniu o que pôde e se abrigou na residência da irmã. Hoje, Caio, a mãe e a irmã vivem escondidos. Por meio de vizinhos, o Correio conseguiu o telefone da família. Desconfiado, Caio desligou quando informado sobre o motivo da ligação.
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