As antigas máquinas fotográficas em filme, embora tenham caído em desuso, mantêm viva as lembranças de retratos revelados e colocados em álbuns de família. Em tempo de tecnologia, facilidades, celulares smartphones e tablets, ainda há quem, por tradição, recorre às câmeras analógicas. Para esses, ter em mãos as imagens impressas ajuda a resgatar momentos de felicidade. Os aparatos digitais, porém, não são dispensados, mas ficam em segundo plano quando o assunto é fotografia. Os amantes das recordações abdicam das imagens digitais para seguir com o costume de filmes revelados.
Os mais jovens, nascidos na era on-line, dificilmente conhecem tão de perto os cilindros com películas de 12, 24 ou 36 poses. Para os amantes das fotografias reveladas, porém, os objetos são sinônimos de relíquia. Depois de impressos, os retratos são emoldurados e afixados na parede de casa. Há ainda quem não abre mão de montar álbuns temáticos. As viagens de férias, o nascimento dos filhos, os registros corriqueiros e os momentos de prazer são catalogados nos livros de lembranças que posteriormente são folheados por muitas gerações de uma mesma família.
Na casa de Patrícia Noura, 47 anos, e César Guimarães, 48, há mais de 80 álbuns e 20 mil fotografias feitas em filme. Os retratos de família ilustram os lugares por onde o casal já passou junto e na companhia dos filhos, de 27 e 29 anos. São mais de 50 países visitados: todos da Europa, parte dos da América, além dos mais exóticos, como Índia, Marrocos, Líbano, Egito, Israel, Turquia e África do Sul. A arquiteta leva consigo a máquina digital, mas nunca largou a câmera analógica. ;A essência da foto revelada é melhor. Acredito que os vários recursos digitais distorcem um pouco a realidade dos lugares. Mas sempre levo as duas comigo, inclusive porque tenho medo de perder as imagens da câmera digital;, ressalta.
Uma das viagens do casal para o exterior rendeu mais de mil fotos, e todas foram fielmente reveladas. A família confessa que o costume custa caro, mas o hábito segue. ;Ver as fotos é viajar de novo. Isso é a nossa vida. Recebemos os nossos amigos em casa, e os colegas de nossos filhos, que vêm nos pedir sugestões de qual local conhecer com base nos nossos álbuns. Tirar os retratos do armário e reunir a família traz um outro clima;, destaca o advogado.
A paixão pelas fotografias reveladas vai além. Patrícia guarda não só os álbuns das viagens, mas também os negativos das fotos. Os retratos ficam em casa, mas ela mantém no escritório de arquitetura livros catalogados com os filmes das máquinas analógicas. ;Com medo do que pode acontecer, eu guardo os negativos separados e classificados. Coloco cada um deles em álbuns, como os de fotografia, e registro com nomes para lembrar. Qualquer coisa, se porventura acontece um imprevisto, eu tenho como resgatar os retratos. Isso acontece também com as fotos digitais. Guardo um HD em casa com tudo e mantenho CDs com as cópias no trabalho;, conta.
Engavetados
Apesar de manterem a tradição, nem todos fazem a escolha pelas máquinas analógicas. O comércio sente um efeito nas vendas e a inversão da preferência da clientela. Em uma loja de fotografia localizada no Conic, os filmes de 36 poses para comércio estão engavetados há mais de seis meses. A gerente, Sirlene de Queiroz, explica que o interesse pelos produtos reduziu significativamente. ;Por mês, a gente vende apenas um filme. Os que ainda procuram os objetos são fotógrafos amadores e pessoas de mais idade, acima dos 50 anos. Os produtos só não são completamente perdidos porque comercializamos para o varejo. Há mais de seis meses, por exemplo, temos 18 filmes que não foram vendidos e permanecem expostos;, esclarece.
[ A tradição fala mais alto quando o assunto é o negativo
O BOM E O RUIM DO ANALÓGICO
; A resolução, comparada com as imagens digitais, é excelente
; Em um local seco e com temperatura amena, negativos e fotos podem durar mais de um século
; Quem aprende a tirar fotos em material analógico consegue ter uma aptidão técnica muito maior
; O armazenamento de negativos e slides é complicado porque requer espaço físico (no caso do digital, o espaço é virtual). Além disso, o material é inflamável
; Hoje em dia, a compra, a revelação e a ampliação dos filmes é muito cara. O conserto de uma máquina analógica também pode ser dispendioso
; A foto só pode ser vista depois que o negativo é revelado e ampliado
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