Há um ano, Paulo Muniz assumiu a presidência da Associação de Empresas do Mercado Imobiliário do DF (Ademi-DF) com um discurso contra a estagnação do ramo imobiliário. Para ele, o setor deveria pegar carona nas mobilizações e também chamar a atenção do governo para medidas contra a burocracia. ;Foi uma fase muito difícil para o setor imobiliário. O caso do Noroeste é emblemático;, diz.
Muniz se refere à falta de infraestrutura do bairro nobre que começa a nascer. Segundo o presidente da Ademi, a Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) assumiu o compromisso de concluir as obras nas duas primeiras etapas do Noroeste e do Parque Burle Marx. Mas ainda não teria cumprido a promessa. Muniz assegura que a Ademi não vai apoiar nenhum candidato ao posto máximo do Palácio do Buriti, mas promete cobrar propostas que defendam o setor imobiliário. Ele sustenta que a demora na liberação dos projetos, por parte do governo, acaba onerando o preço final do imóvel para o cliente em até 20%.
Como está o mercado imobiliário no DF hoje?
O mercado imobiliário sempre foi muito interessante, mesmo com suas dificuldades. Com a extinção do BNH (Banco Nacional de Habitação), tivemos um lapso de mais de 20 anos sem financiamento imobiliário, e isso para nós era o mais difícil. Os bancos, com a insegurança jurídica que existia, evitaram fomentar o financiamento imobiliário. Tanto é que esse crescimento no mercado é provocado pelo advento da alienação fiduciária (negócio jurídico entre o vendedor e o comprador, sendo que este último fica obrigado a pagar o preço, em prestações, à instituição financeira interveniente). Isso deu segurança para os bancos investirem, e hoje você tem essa abundância de crédito no setor. Mas, comparado a outros países, o mercado imobiliário ainda está engatinhando no Brasil.
Em Samambaia, Águas Claras e outros novos bairros, a dificuldade para infraestrutura sempre foi igual?
Infelizmente, sim. A Terracap nunca cumpriu com o papel dela, que é obrigada pela Lei 6.766, sobre parcelamento urbano. Nela, o loteador é obrigado a prover os loteamentos de infraestrutura, inclusive antes de começar a vender. Tivemos esse problema no Sudoeste, em Águas Claras ; que até hoje tem problemas de ligação de energia ; e em Samambaia. Inclusive, temos um problema crônico de botar energia até nos canteiros de obras.
Hoje, o problema é o Noroeste?
O Noroeste é uma expansão do Plano Piloto e existe uma pressão muito grande para se morar na região. A gente brinca que os filhos do Plano Piloto têm sido expulsos de lá por causa da falta de oferta. O Noroeste é uma mancha projetada por Lucio Costa, no Brasília Revisitada. Quando, em novembro, foi lançado o edital da segunda fase do Noroeste, nós ficamos preocupados em dar qualidade de vida para quem já morava lá. Mas não era uma responsabilidade nossa e sim do loteador. A Ademi e o Sinduscon se reuniram com o governador Agnelo Queiroz e o presidente da Terracap (à época, Abdon Henrique de Araújo), e o encontro culminou em um termo de compromisso que eles assumiram. As datas (marcadas para o fim de junho) foram propostas pela Terracap, e não por nós.
Até que ponto o atraso afeta o bolso do cliente?
Há pouco tempo, apresentamos o custo da burocracia no imóvel no país. Chega a 12% e onera para o comprador. Hoje, aqui em Brasília, tenho segurança em dizer que a demora na aprovação de projetos ; de até três anos ; e na implantação da infraestrutura ; de alguns meses ; pode onerar de 18% a 20% o preço final ao cliente, porque os custos são muito altos nesse período. E acho que os preços do Noroeste estão extremamente defasados. Se você comparar os bairros nobres das grandes capitais brasileiras, os nossos preços aqui estão muito aquém.
Se os prazos forem mais curtos, daria para falar na diminuição do preço da unidade para o comprador?
Diminuição, não. Porque, se você colocar na ponta do lápis, não seria tão atrativo. Eu acredito que uma estabilidade de preço pode ser mantida.
As eleições serão em poucos meses. Isso influencia? A Ademi vai apoiar algum candidato?
Nós já estamos fazendo pequenos encontros. Pretendemos ter contato com todos os candidatos e queremos, sim, que eles tenham um compromisso com o setor. Principalmente por todos os números que apresentamos. É só lembrar que recentemente nós fomos o segundo lugar em vendas imobiliárias no Brasil, lançando cerca de R$ 6 bilhões em um ano. Nós queremos um compromisso porque temos certeza de fazer parte da mola propulsora do desenvolvimento do DF, com qualidade de vida para os cidadãos e no poder econômico que o setor representa. A entidade não tem e não terá nenhum candidato. A entidade quer uma solução para o problema do desenvolvimento da cidade.