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Opinião: Ciclovias, caminho vital para mobilidade urbana em Brasília

Se a cultura ciclística conseguir estabelecer convivência pacífica com a supremacia motorizada, a cidade reconhecida mundialmente como uma joia arquitetônica poderá exibir mais um exemplo de civilização e modernidade


Uma das boas novidades na efervescência da Copa do Mundo em Brasília é a utilização maciça das bicicletas. No último domingo, era encantador observar turistas a passeio pelo Eixo Monumental e por outras grandes avenidas da capital sobre o modelo alaranjado que passou a fazer parte da paisagem local. Também era expressivo o número de moradores a circular pelas ruas, pelo simples prazer de contemplar a capital da República livre do casulo de ferro, vidro e aço dos automóveis. Para que essa imagem não fique apenas como um lance excepcional, comparado a um gol de bicicleta, convém voltar à reflexão sobre a imperiosa necessidade de se disseminar a mobilidade sobre duas rodas.

[SAIBAMAIS]Ainda pouco utilizadas pela grande maioria dos brasilienses, as ciclovias constituem um caminho vital para a mobilidade. A capital conhecida pelo respeito à faixa de pedestres tem a oportunidade de obter outra conquista relevante, com a adoção generalizada do transporte por bicicletas. Caso a cultura ciclística consiga estabelecer uma convivência pacífica com a supremacia motorizada, a cidade reconhecida mundialmente como uma joia arquitetônica poderá exibir mais um exemplo de civilização e modernidade.

Um dos pontos fundamentais nesse debate refere-se à própria geografia do Distrito Federal. O desafio é encontrar solução que vença as grandes distâncias entre as aglomerações urbanas. Seria fabuloso oferecer condições para um morador do Guará ou do Gama, por exemplo, se deslocar até o Plano Piloto sem correr risco de atropelamento. As reformas no transporte público, com a aquisição de novos ônibus, inauguração do Expresso DF e ampliação do metrô, deveriam contemplar os brasilienses ciclistas. Os benefícios são óbvios: maior diversidade de transporte, redução de engarrafamentos, menor poluição, menos sedentarismo. Há outras questões relevantes. A política de incentivo ao uso da bicicleta precisa compreender a iluminação nas ciclovias, bem como a atenção à segurança policial. Seria fantástico, por seu lado, se repartições públicas e empresas privadas criassem espaços para os ciclistas estacionarem seus veículos e terem um ambiente para eventual asseio.

A chegada dos serviços de locação de bicicletas e a construção de ciclovias representam dois importantes marcos para tornar definitiva e permanente a cultura do ciclismo. Há muitas outras iniciativas que podem ser adotadas. Grupos organizados, normalmente bastante ativos, podem contribuir sobremaneira para que o brasiliense supere o estigma de que é feito de cabeça, tronco e rodas.