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Troca de figurinhas da Copa vira programa de domingo para as famílias

Conheça a história do capitão reformado do Exército Nei Faria, que já completou três álbuns do Mundial e está terminando o quarto




Seu Nei explica ainda que ajuda as pessoas a completarem seus álbuns. Ele anota numa caderneta o nome delas e quantas figuras cada uma precisa para completar o livro e, assim, cruza as informações. ;É gostosa a satisfação de saber que a pessoa completou o álbum."

Ali, ao lado do militar, Mayara Barros, de 11 anos, também troca seus cromos, supervisionada pelo pai, que cuida pessoalmente da figurinha com a estampa do jogador Neymar Jr. A menina conta que seu primeiro álbum foi o da Copa de 2010 e que só coleciona mesmo as figurinhas do Mundial. ;É bom trocar, você conhece pessoas novas, e serve para guardar de recordação. Meu pai também falou que se completar tudo, guardar e depois vender, fico milionária;, projeta Mayara, dizendo que, em 2010, a maioria dos colecionadores era formada por meninos e que, este ano, há várias meninas para trocar em sua sala de aula.

A Panini aproveita essa grande aceitação para criar uma nova geração de colecionadores. ;Será algo inesquecível para essa geração e também para os adultos que viveram isso um dia. Afinal, depois de 64 anos, a Copa volta para o Brasil e nada melhor para recordar do que assistir aos jogos e completar o álbum de figurinhas;, informa a editora, em nota.


Na capital paulista, um dos pontos de trocas é o Vão-Livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp). Aos sábados e domingos, é possível encontrar colecionadores ao longo dos dias dispostos a completar o álbum de figurinhas. Adultos, crianças, idosos, homens, mulheres, o público é heterogêneo. ;É um público bem diverso e ajuda a integrar as pessoas. É diferente do que a gente costuma ter normalmente;, disse a analista financeiro Eliane Azevedo, que tem um álbum junto com o filho Matheus, de 13 anos. Ela destaca que um dos valores positivos estimulados pelo troca-troca é a solidariedade. ;As pessoas ajudam umas as outras, mesmo que tenham que ficar com uma figurinha repetida. Isso é muito bacana.;

A mãe de João Victor, de 9 anos, Cristiane Shiraishi, também acha que o movimento trouxe mais desenvoltura ao filho. ;Ele é muito introvertido. Aqui, ele tem que chegar, conversar e isso ajudou bastante;, avaliou, ao destacar como positivo o fato de o menino deixar o computador para interagir com outras crianças. No álbum do João Victor ainda faltam mais de 100 espaços em branco para ter toda a escalação das seleções mundiais.

A psicóloga e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Ilana Pinsky destaca o uso pedagógico dos álbuns de figurinha. ;Os meus filhos ensinam para mim coisas que eu não conhecia. As escolas tinham que usar isso muito mais do que usam, é uma maneira muito interessante de ensinar várias matérias para eles, inclusive geografia. Por meio desse interesse pelo álbum, os meus filhos conhecem não só diversos países e suas capitais, mas também cidades específicas, porque sabem de onde cada jogador veio.;

Ela ressalta ainda que as trocas de figurinhas acabaram incentivando as crianças a ser afastar por um tempo dos eletrônicos. ;Eu também tenho percebido, como mãe e como psicóloga clínica, que as crianças têm se interessado de fato em tal nível que têm deixado de lado, mesmo que momentaneamente, seus aparelhos [eletrônicos], o que é uma delícia. Eles estão usando os mesmos tipos de brincadeiras ; essa coisa de virar figurinha ; que eu brincava e que, às vezes, até nossos pais brincavam. Então tem sido um momento muito gostoso e eu acho extremamente positivo."