Numa quinta-feira de céu manchado de nuvens, parte da família de Rozely Ferreira de Aquino e amigos se reuniram numa fazenda a 50km da cidade de Planaltina. O milharal viçoso, esguio e denso aguardava a colheita. Era preciso tirar as espigas graúdas cujos cabelos já estivessem secos (mas não em demasia). Uma torcida e a espiga estava à mão. A fome e a disposição eram muitas: colheram-se quatro sacas de espiga. (Quando chegamos, já tinham sido colhidas pelos funcionários da fazenda).
Na colheita rápida, só para a foto, Rozely mostrou as bonecas de sua infância: espigas ainda verdes, pequenas, e com os cabelos loiríssimos. Já nasciam prontas. O milho para pamonha não pode estar nem muito maduro nem muito verde. Rozely espreme os grãos com a unha, se estiverem úmidos, estão no ponto da pamonha.
O milho colhido é amontoado no centro de uma roda de cadeiras. Começa a tarefa mais perigosa e demorada. Com uma faca bem amolada, tira-se o rolete ; o corte de um ou dois dedos da extremidade mais grossa da espiga. Depois, é hora de arrancar o cabelo do milho e a palha, tarefa que exige cuidado, porque são elas que vão envolver a massa da pamonha para o cozimento. Desprezam-se as duas primeiras, por estarem mais desgastadas, e aproveitam-se as duas ou três subsequentes.
É chegada a hora de ralar o milho. No método mais artesanal, no ralador de alumínio, a tarefa é bastante demorada. Mas a pamonhada da família de Rozely tem a assessoria de um ralador elétrico improvisado com um motor de tanquinho de lavar roupa que gira um ralador em forma de tubo. É mais rápido, mas é preciso destreza para ralar o milho sem atingir o sabugo ; se isso acontecer, a pamonha ficará amarga.
Ralado o milho e o queijo meia-cura, cuida-se de preparar a massa. A essa altura, o panelão de água já deve estar no fogo. Ao milho ralado acrescenta-se o queijo na proporção de uma unidade para 15 litros de massa. Adiciona-se 500g de margarina derretida e meio litro de óleo. Segue-se o açúcar, na medida do gosto do freguês.
Com a ajuda dos dedos indicador, médio e anular, a palha do milho é enrolada no formato de meio tubo, resultando um saquinho onde se colocam a massa, o recheio (o queijo frescal, na receita escolhida), e cobre-se com outro meio tubo de palha. Uma liga de plástico fecha o volume (antes, faziam-se tiras de palha cozinha, emendadas umas nas outras até formar um fio de tamanho suficiente). Quarenta minutos depois, está pronta a pamonha.
Gasta-se quase um dia inteiro, da colheita à comilança, para fazer uma pamonhada. No meio do caminho, serviu-se um almoço goiano: feijão, arroz, macarrão, frango caipira, carne de sol, mandioca cozida, angu e salada.