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Bancária morre após cirurgia estética e família denuncia clínica

Complicações no procedimento cirúrgico podem ter resultado na falência dos rins



A cirurgia foi realizada em um sábado, 26 de abril. A bancária fez o exame pré-operatório, que, segundo a família, não teria identificado qualquer problema que pudesse impossibilitar a intervenção cirúrgica. No dia seguinte à operação, quando o marido foi visitar a esposa, percebeu que Railma estava pálida, inchada e com dificuldade para falar e se movimentar. Segundo Cleydson, ao questionar o médico responsável pela cirurgia, foi informado de que não havia problemas de saúde e que o estado da paciente era normal em decorrência da cirurgia.

Apesar de ser informado que o caso não era grave, Cleydson garante que o médico da clínica pediu para que ele fosse ao hospital mais próximo, com um tubo contendo sangue da esposa, para fazer um hemograma. Segundo o marido, o procedimento ajudaria a verificar o tipo sanguíneo da paciente e daria andamento à transfusão, que foi feita da clínica.

Após o procedimento, a família notou uma pequena melhora em Railma. "Ela não estava mais tão pálida, no entanto, não urinava desde a cirurgia. Perguntei ao médico sobre o problema e ele me disse que a ingestão de diurético resolveria a questão", disse Cleydson.

A família relatou ao Correio que pediu a transferência de Railma para um hospital, mas a solicitação teria sido negada pela clínica. "O médico falava a todo momento que estava tudo bem e que ela não corria risco de morte", ressaltou o feirante.

Três dias após a cirurgia, a família da bancária foi informada da transferência para o Hospital Santa Luzia, na Asa Sul. "Me ligaram falando que ela precisava ir para a UTI fazer mais exames, apenas para garantir que estava tudo bem", disse o marido.

Ao chegar na unidade de saúde, Cleydson foi informado que os rins da mulher não funcionavam desde domingo, um dia após a cirurgia plástica, que houve uma hemorragia interna e que o caso era gravíssimo. "A médica responsável pela UTI disse que estava preocupada com os órgãos e que precisava fazer uma hemodiálise com urgência", relatou. O marido da paciente disse ainda que exames mostraram uma perfuração no lado esquerdo do pulmão.

A morte cerebral de Railma foi confirmada na última terça-feira (6/5). "Durante a visita, a doutora mostrou a tomografia que ilustrava os vasos sanguíneos que chegavam apenas até o pescoço, constatando a morte cerebral".

O boltim médico disponibilizado pelo Hospital Santa Luzia atesta o dia e o horário da morte e mostra que a paciente chegou ao hospital com insuficiência reanal aguda e hepática.



Railma era casada há 15 anos com Cleydson e deixou um filho de 7 anos. A ocorrência foi registrada na 1; Delegacia de Polícia (Asa Sul), que investiga o caso. "O sentimento que fica é de revolta, estou com medo de que não seja feita a justiça. Preciso dar satisfação para o meu filho, explicar o que realmente aconteceu", exclamou. O enterro será neste sábado (10/5), no cemitério de Taguatinga. O velório começa às 14h e o sepultamento será às 16h.

Licença para funcionar
Manoel Silva Neto, diretor da vigilância Sanitária do Distrito Federal, informou que a clínica tem autorização para realizar cirurgias plásticas e passou por vistoria recentemente. "Essa unidade é classificada como a do tipo 3, ou seja, pode oferecer os serviços de lipoaspiração, por exemplo, sem ter obrigatoriamente uma Unidade de Tratamento Intensivo, a regra, no entanto, é com relação ao contato permanente com uma UTI móvel e um hospital", esclareceu Neto. O diretor informou ainda que o local está sob ação fiscal e cumpre algumas exigências para manter a licença.

Em 2013 a Secretaria de Saúde realizou uma ação que consistia em vistoriar todas as clínicas de estética do DF. Na época, a Clínica Lazzarini foi fiscalizada e precisou se readequar as novas normas da Anvisa. "Não há irregularidades no local. Essa clínica, assim como outras no Distrito Federal, precisam cumprir regras que são atualizadas constantemente", disse Alessandra Domingues, auditora de vigilância sanitária.

O Correio entrou em contato com a Clínica Lazzarini, que informou que não irá se pronunciar enquanto não sair o laudo com as causas da morte.

Assista à reportagem da TV Brasília

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