Jornal Correio Braziliense

Cidades

Turbante pode ser usado para se reaproximar da cultura africana

O tecido é mais que um simples enfeite, e carrega consigo o simbolismo do poder e a valorização da beleza da raça


Yalodê é uma palavra africana da língua iorubá. As seis letras são usadas para designar o poder feminino nas cidades. Não poderia haver verbete melhor para representar mulheres que usam turbantes. Mais do que um simples acessório, o tecido amarrado na cabeça sugere força, história de luta, identidade, remete às raízes africanas da cultura nacional. Não à toa, Ialê Garcia deu o nome à oficina em que ensina formas variadas de utilização do tecido. Ela e outras engajadas na luta contra o racismo enxergam nos turbantes mais uma forma de resistir.

Há três gerações, a família de Ialê integra o movimento negro. No Rio de Janeiro, na década de 1950, os parentes participaram do grupo que fundou o Clube Renascença. Até então, nenhum outro local estava disponível para lazer e reunião dos negros. A partir daí, Ialê tem contato com palavras de origem africana e a história da luta negra. ;As influências dos turbantes vieram da infância. Minha avó era estilista de alta costura, conhecida como Madame Garcia. Quando eu passei férias no Rio, tive a oportunidade de participar de uma oficina. Isso mexeu comigo e eu resolvi trazer para a minha linha de produtos;, conta Ialê, que trabalha com acessórios étnicos e de referência africana desde 2006, mas apenas há três anos retomou o hábito dos turbantes. Ao voltar a usá-los, logo vieram pedidos para que transmitisse a técnica. Vieram as turmas. Ialê reúne, no máximo, 20 pessoas. Os cursos não têm periodicidade.

Normalmente, o algodão ou os tecidos de origem africana dão base para a arte na cabeça. Porém, depois de familiarizada com os métodos, cada mulher pode usar a malha que quiser, como seda ou viscose. Nas duas horas em que a aula é dada, Ialê não fala apenas de tecidos. ;Ensino às alunas sobre a importância de saberem usar um turbante, quem vem para dar poder à mulher. É uma forma de resistência e luta contra o racismo, num mundo onde o referencial de beleza é eurocêntrico;, avalia. O trabalho de sensibilização e autoestima culmina no ensinamento de 12 maneiras diferentes de amarrados.

Para as alunas, o turbante também é significativo. ;A maioria gosta de moda, usa algumas faixas, coisas básicas. Quando a aula termina, é emocionante. Temos muitos relatos de meninas que deixaram de alisar os cabelos e passaram pelo processo de fuga do embranquecimento;, diz Ialê.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.