Jornal Correio Braziliense

Cidades

Mortes e mutilações são frequentes no depósito de resíduos da Estrutural

Os catadores se arriscam diariamente ao recolher material reciclável. Quem sobrevive aos acidentes reclama da falta de amparo e de assistência por parte do governo

Logo que um caminhão de coleta despeja resíduos no Lixão da Estrutural, um aglomerado de pessoas se forma atrás do veículo. Assim que o material vindo de todo o Distrito Federal é largado no chão, mulheres, homens e crianças travam uma briga para recolher garrafas plásticas, latas de alumínio, sucatas e até comida. A cena se repete ao longo do dia na área, aberta 24 horas aos catadores. Além das condições precárias de trabalho, eles assistem a tragédias ou as protagonizam .



Ali, gente morre em meio ao lixo. Somente neste ano, duas pessoas perderam a vida no local, enquanto buscavam tudo o que poderia ser vendido para assegurar o sustento das famílias. Em um dos casos, o corpo de João Paulo Santos Pereira, de 32 anos, foi encontrado em uma das três lagoas de chorume do depósito irregular, provalmente afogado. Quando não têm a vida interrompida, acabam mutilados. Alguns carregam no corpo sequelas irreversíveis, consequência de cortes, acidentes e atropelamentos.



Edilson Gonçalves de Sousa, 39 anos, é uma exceção. Após ter tido dois dedos da mão direita decepados por um caminhão de lixo da Valor Ambiental, há dois anos, o paraense conseguiu receber indenização da empresa. O valor que ganhou na causa ; R$ 4 mil ; saiu em seis meses. A quantia, porém, não amenizou o sofrimento da vítima. ;Foi preciso um ano para os ferimentos sararem. Fiquei três meses encostado no INSS sem poder trabalhar. Continuo com dor. Todos os dias. Não tomo remédio porque, senão, vou viver me medicando;, lamenta o pai de oito filhos.

Amputado, o ex-catador ainda tentou voltar ao lixão e, por pouco, não morreu. ;A caçamba de um caminhão soltou e chegou a bater nas minhas costas, mas, não sei como, ela escorregou para a frente e não me pressionou contra o chão. Devem ter sido as mãos de Deus;, arriscou Edilson. Depois disso, ele nunca mais voltou ao local. ;É muito perigoso. Já vi muitas pessoas morrendo. Perdi muitos amigos e parentes de amigos. Presenciei a morte de dois homens ao mesmo tempo. Foram esmagados por um veículo;, contou ele, que fazia parte de um grupo de 2,5 mil pessoas que ganhavam a vida recolhendo resíduos no espaço.

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