Jornal Correio Braziliense

Cidades

Mulher doa vestido de casamento à noiva sem condições de comprar a peça

A escolhida vive em Ceilândia e conheceu a doadora, moradora de Águas Claras, em encontro promovido pelo Correio

Em 2012, ele foi protagonista de uma união feliz. Depois do grande dia, não saiu mais do armário. Perigava ser esquecido naquele canto e até amarelar. Mas um gesto de solidariedade mudou o destino do vestido de noiva. Agora, ele tem a missão de trazer sorte para outro casal. Será doado por uma nutricionista, moradora de Águas Claras, a uma atendente de telemaketing, que vive em Ceilândia. A jovem de 18 anos vai se casar em abril e precisou desmarcar várias vezes a data por dificuldades financeiras. Não conseguia o dinheiro necessário para pagar o aluguel da peça. Na tarde de ontem, o Correio promoveu o encontro das duas mulheres que, até então, não se conheciam pessoalmente.



A história que antecede a compra do vestido tem tom de conto de fadas. Parecia que ele esperava para ser levado por Denise. A moradora de Águas Claras conta ter ido a um bazar de noivas, mas sem muita certeza de que encontraria o tão sonhado traje. Afirma ter recebido na ocasião a senha 180. Diante do grande número de noivas, pensou até em desistir. ;Falei para mim mesma: ;Nunca vou conseguir alguma coisa aqui;. Tinha mulheres gritando, outras caindo no chão pelos modelos. Mas, quando me chamaram, logo o avistei sozinho em uma arara, intocado. Foi amor à primeira vista;, relembra Denise. Segundo ela, não foram necessários quaisquer ajustes na peça. ;Parecia que tinha sido feito sob medida, para mim.;

Estalo

A ideia de doar o vestido, segundo Denise, surgiu na última segunda-feira, na iminência da mudança de endereço. ;Como vou para outro apartamento, comecei a empacotar as coisas. O vi e pensei: ;O que vou fazer com ele?;. Dias antes, a minha avó tinha lido um versículo da Bíblia sobre a generosidade. Foi baseado nele que tive o estalo;, explica a nutricionista. ;É algo que todos podemos fazer no nosso dia a dia. Estou em uma época tão boa e, graças a Deus, consigo fazer coisas que eu sonhava. Então, porque não ajudar uma outra pessoa?.; Até o sapato do casório Denise vai repassar para Natália. Coincidentemente, as duas usam o mesmo número.

Para atendente de telemarketing, o gesto fará a diferença. ;Acho que o vestido vai me trazer sorte no casamento. Achei muito bonito o gesto dela e, principalmente, a questão de ter de passá-lo para uma outra pessoa. Faltam boa almas no mundo, que se preocupem com os outros;, exclama Natália. A moradora de Ceilândia diz nunca ter imaginado entrar na igreja com uma roupa tão bonita.

Descontos

A peça cravejada de cristais Swarovski foi comprada no Mega Bazar, que acontece duas vezes por ano (geralmente, no primeiro e no segundo semestre). O evento é promovido pelo ateliê Fernando Peixoto, localizado no Lago Sul. Na ocasião, são colocadas à disposição do público vestidos novos e usados, com até 90% de desconto. Além de vestidos de noivas, são comercializados trajes para debutantes e vestidos de festa.

Filhos, só mais tarde

De um lado, Denise Ramos, 28 anos. Do outro, Natália Caixeta, 10 anos mais nova. Natural de São Paulo, moradora de Águas Claras, a primeira é casada com o empresário Marcelo Barramacher, 25. Eles estão prestes a se mudar para outro apartamento na mesma região administrativa. Os dois se casaram em 27 de julho de 2012 e não tem filhos. Pretendem aguardar mais alguns anos para aumentar a família. A segunda, por sua vez, é natural de Itabuna, Minas Gerais, mas vive em Ceilândia. O noivo dela é o professor de bateria Israel Oliveira de Jesus, 19, que conheceu em um retiro evangélico. Ela divide uma casa simples com sete familiares e, após o casamento, vai se mudar para outra residência, alugada, em Taguatinga. Por enquanto, não pretende ter filhos. Ela sonha em cursar pedagogia e montar uma escola para crianças.