Em meio à desordem fundiária, Riacho Fundo e São Sebastião abrigam casos de resistência. Exemplos de um problema pulverizado em todo o Distrito Federal. Previstas para serem tipicamente rurais, destinadas ao fornecimento de alimentos e outros produtos, aos poucos foram cercadas e sufocadas pela expansão urbana. Hoje, lavouras e currais disputam espaço com parcelamentos irregulares de todas as faixas de renda. As noites tranquilas foram substituídas pelo medo da violência, e a água não é mais tão limpa. A cidade sufoca o campo. Ainda assim, há quem persista.
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No passado, a história era diferente. De topografia favorável, abundante em água e próxima da principal via de acesso ao canteiro de obras da futura capital, a área onde hoje está o Riacho Fundo foi uma das primeiras a ser destinada para a criação de um cinturão de produção de alimentos, em 1957. Já a Fazenda Taboquinha ; atual São Sebastião ; serviu em um primeiro momento para a instalação de olarias. Com as construções a pleno vapor no Plano Piloto e com o tempo apertado para a inauguração de Brasília, era necessário criar as condições para abastecer o mercado consumidor, seja com produtos alimentícios seja com tijolos, telhas e outros materiais para a construção civil.
O acerto para a ocupações das primeiras áreas rurais começou antes mesmo da inauguração de Brasília. A cúpula do governo Juscelino Kubitschek decidiu convidar famílias japonesas que moravam em Goiânia para viver no DF. Ofereceram, como incentivo, terrenos às margens do Riacho Fundo para serem cultivados. Os primeiros a encarar a empreitada foram os clãs Kanegae, Hayakawa, Ogawa, Ikeda e Okudi ; mais tarde, 15 famílias asiáticas se juntariam aos pioneiros na região. Na nova terra, especializaram-se na produção de hortaliças, frutas, peixes e outros pequenos animais. Arrancaram do solo o próprio sustento e alimentaram os brasilienses ao longo de décadas.