Cidades

Pedreiro se dedica à poesia e transforma a vida em experiência contada

Nos canteiros de obras, a caminho de casa ou em família, O piauiense Henrique Pereira de Oliveira, 64 anos, escreve pelo prazer do improviso

postado em 10/01/2014 06:09

É ele quem ergue palavras onde antes só havia chão batido. Pedreiro de profissão, Henrique Pereira de Oliveira, 64 anos, dedica-se também à caneta e ao papel, ferramentas com as quais registra sua poesia e transforma a vida em experiência contada. O amor pelos filhos, a amizade que cultiva pelos conhecidos e o amor pela esposa são os temas do piauiense, que mora no Guará 2 há 13 anos. Todos os dias, antes e depois do trabalho, o homem escreve composições, encomendadas ou espontâneas. Às pedidas, ele chama de homenagem e, por elas, espera somente a satisfação do homenageado.

Henrique nem sequer completou o primário. Até os 17 anos, morou na fazenda, em uma localidade conhecida como Baixa Grande do Zé Pereira, no município de União, no Piauí, a 59km da capital, Teresina. De lá, ele saiu para estudar na cidade, mas não tinha dinheiro para comprar os livros. ;Eu pegava os dos meus primos quando eles estavam distraídos. Eles não estudavam, mas também não me emprestavam. Acabou que eu fui mais longe do que eles na escola e me dava muito bem em história;, lembra.


Para despistar os garotos, Henrique se valia da diversão da garotada da região: os mergulhos no Rio Parnaíba, que banha a pequena localidade. ;Eu aproveitava quando a gente ia nadar e andar de canoa e remo. Na hora de ir embora, eu era o primeiro a sair, pegava os livros de dentro da pasta deles, colocava-os por dentro da minha roupa e ia para casa carregando o remo. Assim, com os braços levantados, eles não perceberiam o volume dos objetos;, explica. O problema era quando os primos descobriam o truque. ;Aí, eles me davam um pontapé bem na lateral da costela. Eu caía com caderno e remo e doía;, conta.

A batalha pelo conhecimento durou pouco tempo, pois o jovem Henrique teve de abandonar os bancos escolares em busca de sustento. Para isso, mudou-se para Coelho Neto, no Maranhão, onde aprendeu a ser servente de pedreiro. Lá, passou quatro anos, juntou dinheiro e voltou ao Piauí a fim de montar um comércio do tipo secos & molhados. Falido, retornou ao Maranhão, onde redigiu uma redação na empresa de construção em que trabalhava. ;Eles pediram para a gente fazer um texto sobre como evitar o desperdício de material. Eu tirei a maior nota da turma e vi que precisava continuar a escrever;, diz.

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