Jornal Correio Braziliense

Cidades

Afogamento de criança expõe fragilidade de infraestrutura no DF

A população do DF é refém durante temporada de chuvas. Lixo, obras malfeitas e ausência de reestruturação do sistema de coleta de chuva estão entre os motivos para a situação


Um viaduto mal projetado e deficiências no sistema de absorção de águas da chuva contribuíram para a tragédia em Ceilândia, na noite de terça-feira, que poderia ter tirado muitas outras vidas além da pequena Geovana Moraes Oliveira, de 6 anos. A cada estação chuvosa, os moradores da capital brasileira deparam-se, cada vez mais, com vias alagadas e áreas sujeitas a desabamentos. Cenas que, há pouco tempo, pareciam distantes da realidade de Brasília, exclusivas de metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro.

Há duas semanas, o auxiliar administrativo Wanderlei Cunha, 31 anos, teve uma surpresa ao sair do prédio onde trabalha, na 511 Norte. Chovia forte e a moto dele foi levada pela enxurrada. ;A água estava batendo no meio do muro, na altura da minha cintura. Os ônibus passavam e faziam ondas. O pior é que eu tive que voltar encharcado para trabalhar;, lembra. A moto estava a alguns metros de distância da vaga onde ele a havia deixado, com parte da lanterna quebrada. ;Tudo alaga. O sistema tinha que melhorar como um todo, não só fazer medidas paleativas. E o povo precisa se conscientizar, porque há muito lixo no chão;, critica o servidor.

O problema na quadra comercial repete-se todo ano. Glayson Camargo, 30, é supervisor de vendas de uma concessionária na W3 Norte e não esquece os alagamentos ocorridos em anos anteriores (leia Memória). ;Várias pessoas perderam os carros, estacionados aqui em frente, inclusive eu. A água levanta os veículos e eles ficam boiando no meio da rua. E isso acontece há três anos.;

As deficiências estruturais afetam ainda as vias L3 e L4, a Universidade de Brasília (UnB), o Setor Terminal Norte e as tesourinhas. Na tentativa de ajudar os motoristas desprevenidos, moradores e funcionários das áreas críticas unem-se. ;Tem condutor que tenta passar, o carro apaga e eles ficam ilhados. Fazemos cordão humano para resgatar o pessoal. Antes, era uma coisa que só víamos pela televisão;, afirma Camargo.