Uma paciente deu entrada no Hospital Municipal Bom Jesus, em Águas Lindas de Goiás com parada cardíaca na última quarta-feira (31/7) e, depois de passar por outras duas instituições, acabou tendo morte encefálica confirmada no Hospital de Base. Entre o primeiro atendimento e a confirmação da morte, passaram-se aproximadamente sete horas. O trajeto da mulher, em uma âmbulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), ocorreu sem o uso do ventilador adequado e revelou que os hospitais não tinham estrutura para lidar com o caso.
A mulher chegou ao Hospital de Águas Lindas por volta de 20h30 e foi atendida pelo clínico geral Wendel Antônio Alves Moreira. "Conseguimos fazer com que o pulso dela voltasse em seis minutos, revertemos a parada e a entubamos. Não temos um respirador mecânico, então colocamos um respirador manual por cinco horas", declarou o médico.
De acordo com Wendel, estava claro que o infarto era extenso e havia uma lesão neurológica, então o hospital começou a investigar a morte encefálica, porém não havia aparelhos capazes de fazer os exames necessários. "Liguei para a captação de órgãos do Hospital de Base e para Goiânia; disseram que tínhamos que lavá-la até lá, mas sem ventilador mecânico não podíamos transferi-la", conta o médico.
Moreira ligou então para hospitais de Ceilândia, Brazlândia e Taguatinga, procurando pelo atendimento adequado, sem nenhum resultado. A paciente saiu do Hospital de Águas Lindas com o clínico geral e a família em uma ambulância do Samu para o Hospital de Ceilândia, onde também não havia o equipamento necessário para recebê-la.
A ambulância seguiu para o Hospital de Base. Porém, de acordo com o médico, a equipe não quis atender a paciente, pois não era o perfil do Hospital e informaram que ela deveria voltar para o hospital de origem. A família da paciente chamou a polícia e então o hospital aceitou recebê-la.
Segundo Wendel, é difícil dizer se a paciente teria sobrevivido, porque não havia certeza da morte encefálica, mas o quadro era muito grave: "Ela chegou tarde ao Hospital de Base e os órgãos sofreram com a demora no socorro adequado".
O secretário de saúde do DF, Elias Fernando Miziara afirmou que dados preliminares não deram indício de que houve falha pois o Hospital de Ceilândia não é referência nesse tipo de caso. "Ela (a paciente) veio transportada em um ambulância inadequada, com um médico bobeando o ar para ela, não deveriam nem ter parado em Ceilândia. Os médicos conversaram e, de comum acordo, entendeu-se que não era adequado que ela ficasse lá", afirmou o secretário.
Além disso, segundo o secretário, "o relatório feito pelo médico de próprio punnho já informava a morte encefálica. Na verdade, a vida, do ponto de vista natural, já não existia. Era uma vida articial, por aparelhos.
Ainda de acordo com Miziara, a equipe de Taguatinga recebeu a ligação do médico, mas ele não teria passado o caso da maneira adequada nem questionado a situação. Quando chegou ao Hospital de Base, ela foi levada para o trauma.
Com informações de Luiz Calcagno
Segundo o secretário de saúde, a família da paciente ainda não se manifestou. Não se sabe se a paciente é doadora de órgãos, mas o caso será avaliado pela secretaria e as medidas necessárias serão tomadas.