Jornal Correio Braziliense

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Seca coincide com a floração dos ipês, exuberantes em todo o DF no inverno

Tudo começa com o roxo e segue em progressão colorida, passando pelo amarelo, pelo rosa e pelo branco

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O tempo árido e empoeirado é a moldura que acolhe os ipês em flor. Com a queda da umidade relativa do ar, copas amarelas, rosas, roxas e brancas tomam a paisagem e fazem refletir aqueles que encaram a seca apenas como tempo cinzento de queimadas e vegetação marrom. As cores vibrantes da família tabebuia, composta pelas variedades da planta, irrompem de junho a setembro. O primeiro a se apresentar é o ipê-roxo, o tabebuia avallaneda, cujos buquês já enfeitam o Distrito Federal desde a semana passada. Eles podem ser vistos nos gramados ao longo do Eixo Monumental, na Torre de TV e nos Eixinhos Norte e Sul, já salpicados destas pinturas exuberantes.

É toda essa beleza que a aposentada Mirna Paiva de Carvalho, de 74 anos, quer transmitir por meio de seus pincéis. Ela pinta há 13 anos e os temas preferidos são os elementos da natureza. Na manhã de ontem, Mirna observava o conjunto das árvores coloridas na 113 Sul para entender todos os detalhes. ;Eu já pintei o amarelo e agora, quero fazer o roxo, acho lindo!”, vibrou a artista.

Com o celular em punho, Mirna clicava com atenção. ;Eu tiro fotos para saber como devo pintar depois. Quero ser fiel a todas as características;, disse. Para a missão, ela contou com a ajuda do marido, o aposentado Basílio Leite de Carvalho, de 75 anos. Enquanto Mirna fotografava de um ângulo, ele caminhava até o canteiro entre o Eixo W e o Eixão Sul para garantir outros registros. ;Vim para acompanhá-la. Eu também tiro otos para que ela tenha várias opções na hora de fazer os quadros;, explicou.

A veia artística da aposentada Maria das Graças Souza Sales, de 57 anos, também foi estimulada pelos cachos róseos. Ela registrou, por meio do aparelho móvel, o espetáculo que, pelo menos, sete ipês proporcionavam a quem cruzava a passarela subterrânea no fim da Asa Sul. ;Ver uma coisa dessas alegra o nosso dia. Decidi guardar a lembrança;, explicou. Ela destaca ainda a necessidade de preservá-los. ;É muito bonito, mas pode acabar, né? Se as pessoas não cuidarem, em pouco tempo isso tudo não vai mais existir;, defendeu.

Interessada nas propriedades do ipê-roxo, a catarinense Clarineide Góes de Oliveira, de 74 anos, guardou uma pequena amostra da flor para levar de volta. ;Lá em casa, tenho um livro que conta tudo sobre o ipê. Quero saber como posso aproveitá-lo, se para remédio ou ornamentação mesmo;, disse.

Sementes ao vento
As floradas costumam durar uma semana, em média, e variam conforme a pouca concentração de água na atmosfera. No caso do amarelo, ele pode se estender por até 10 dias e tem duas edições: uma após a do roxo, aproximadamente em julho, e outra em setembro, quando se anuncia a chegada da temporada de chuva.

O fato de ter havido precipitação neste mês ; situação pouco comum para a época ; pode ter afetado o ciclo dos ipês, de acordo com a professora do curso de engenharia florestal da Universidade de Brasília (UnB) Carmen Regina Correia. ;Esse ano, tem chovido até agora, o que muda um pouco o ciclo deles. Talvez pudéssemos tê-los mais floridos se não estivesse chovendo;, afirmou.

A floração é, de acordo com a professora Carmen, uma estratégia de reprodução das plantas. ;Os ipês aproveitam o vento para propagar as sementes. Elas possuem uma película, que as permite flutuar. Quando as condições ambientais oferecem essa oportunidade, os cachos florescem;, continuou. No caso do branco, por exemplo, ela explica que o curto de período de floração pode ter a ver com a alta frequência de polinização. ;As flores caem mais rapidamente. Uma hipótese é de que sejam muito polinizadas e consigam frutificar rapidamente;, explicou.

; No cerrado
Cientificamente chamado de tabebuia avellaneda, o ipê-roxo tem altura entre 8m e 12m e o caule pode ter até 90cm de diâmetro. A ocorrência da espécie nativa do cerrado é principalmente em regiões com inverno seco e temperaturas entre 18;C e 26 ;C, como Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e Goiás. É uma árvore de ornamentação e serve de alimento para insetos apícolas, aves e macacos.

; Natureza em festa
Junho e julho: ipê-roxo
Julho e agosto: ipê-amarelo
Fim de agosto: ipê-rosa
Setembro: ipê-branco e ipê amarelo