Viver em casa de barro já foi sinônimo de moradia antiga. Construir um banheiro seco ou reaproveitar a água da pia ou do chuveiro também pode causar estranhamento nas pessoas. Mas em tempos de inquietação quanto ao futuro do planeta, o Distrito Federal tem ganhado cada vez mais adeptos de soluções ecológicas para erguer moradias. A procura por alternativas ao modelo convencional de construção civil ajuda a desacelerar essa indústria e é responsável por 70% dos recursos extraídos da terra e por 50% da poluição ambiental no mundo.
As bioconstruções tornaram-se opção aos modelos de alvenaria, mas o proprietário deve seguir alguns critérios, como participar ativamente da construção da casa e usar materiais locais, naturais e renováveis para erguê-la, como barro e madeira. ;Mas tudo depende da disposição e da coragem de quem for fazer, a pessoa precisa acreditar nisso, porque implica uma mudança profunda;, explica o engenheiro florestal Cláudio Jacintho, adepto da permacultura ; sistema que cria ambientes produtivos e sustentáveis em harmonia com a natureza. Para ele, não existe uma casa ecológica, mas sim uma conduta ecológica dos moradores. ;As pessoas têm medo da natureza. Elas precisam mudar essa concepção e entender que o ser humano faz parte desse ambiente;, defende.
Palavra de Especialista
Educação ambiental
"Toda essa tendência é extremamente saudável e positiva. A lição do século 20 é que transformávamos em mercadoria o que produzíamos na fazendas e éramos capazes de nos sustentar com baixo impacto ao meio ambiente. A industrialização faz com que passemos a ser consumidores e não produtores e aí está a diferença. A sustentabilidade surge quando começamos a pensar em nós mesmos como produtores, como responsáveis pela qualidade da nossa vida e das pessoas. Quando pensamos em consumir menos água, menos energia, produzir nosso próprio alimento e buscar moradias que tenham sido feitas com materiais da região. A cultura brasileira é altamente sustentável, mas somos grandes importadores de tecnologia e de indústria de um modelo que impacta, como somos importadores até de modelo de sustentabilidade. A solução para sair do consumo desenfreado é o da educação ambiental, que deve começar no ensino fundamental. As pequenas gentilezas com o meio ambiente são um ótimo começo. Brasília deveria ser a capital da sustentabilidade, porque cada superquadra é uma oficina de sustentabilidade, paulatinamente, algumas prefeituras, condomínios e moradores têm dado exemplo e eles são os nossos pequenos heróis."
Frederico Flósculo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB)
Economia de energia
As casas ecológicas primam pela ventilação e iluminação naturais. Sem ter que acender lâmpadas ou ligar aparelhos de ar-condicionado, veja quanto é possível economizar:
Aquecedor de ambiente
Potência média: 1,5 mil watts
usado 15 dias por mês
média de 8 horas por dia
consumo médio mensal: 193,44kw/h
custo: R$ 48,36
Lâmpada incandescente
Potência média: 100 watts
usado 30 dias por mês
média de 5 horas por dia
consumo médio mensal: 15kw/h
custo: R$ 3,75
Lâmpada fluorescente compacta
Potência média: 23 watts
usado 30 dias por mês
média de 5 horas por dia
consumo médio mensal: 3,45kw/h
custo: R$ 0,86
AR condicionado 10 mil BTU
Potência: 1.350 mil watts
usado 30 dias por mês
média de 8 horas por dia
consumo médio mensal: 162kw/h
custo: R$ 40,5
Tarifa residencial da Companhia Energética de Brasília (CEB) de até 50 kW/h: R$ 0,25
Fonte: Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel).
Veja alguns gastos com água em casa:
- A cada descarga, gasta-se em média 10 litros de água.
4 vezes ao dia / 30 dias no mês
Gasto de 1,2 mil litros
Para lavar o carro com mangueira por 30 minutos, usa-se 216 litros
4 vezes ao mês
Gasto de 864 litros
Regar o jardim com mangueira por 10 minutos usa 186 litros
4 vezes ao mês
Gasto de 744 litros
Limpar a calçada por 15 minutos consome 279 litros
4 vezes ao mês
Gasto de 1.116 litros
Total: 3.924 litros gastos apenas com essas tarefas
Total de gastos: R$ 8,12
Tarifa residencial da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) para de 0 a 10 metros cúbicos de água: R$ 2,07 por metro cúbico.
1 metro cúbico é igual a 1 mil litros de água.