Jornal Correio Braziliense

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Amigos e funcionários de bares lamentam morte de Jorge Ferreira

Jorjão, como era carinhosamente chamado pelos amigos, não resistiu a um acidente vascular cerebral (AVC) e morreu no início da tarde desta terça-feira

Os bares de Jorge Ferreira abriram como o previsto. Às 18h, os funcionários arrumaram as mesas e os garçons devidamente uniformizados aguardavam a clientela. Aos poucos, as pessoas chegavam para mais uma noite de boemia. O clima não era o mesmo. Jorjão, como era carinhosamente chamado pelos amigos, não resistiu a um acidente vascular cerebral (AVC) e morreu no início da tarde desta terça-feira (2). Ele estava internado há uma semana, no Hospital Copa D;Or, no Rio de Janeiro, após passar mal no apartamento que mantinha na capital fluminense.

[SAIBAMAIS]O falecimento pegou os funcionários do Bar do Ferreira de Águas Claras de surpresa. "Não pensava que ele fosse morrer porque nunca o vi doente. Foi uma coisa inesperada e todo mundo está muito sentido", disse o garçom Antônio Roni de Melo, 55 anos, o "Toninho Galera". O apelido foi dado pelo patrão ainda na década de 1990, quando Roni trabalhava no Feitiço Mineiro. "Naquela época a gente saía do serviço e não tinha ônibus para voltar para casa de madrugada. Chamava a galera para a farra e por isso o apelido pegou. O Jorjão era uma pessoa fantástica", elogiou.

No Mercado Municipal, na 509 Sul, Jorge tinha preferência por almoçar na parte de cima do estabelecimento. Sempre sentava-se à mesa encostada na grade de proteção. Do alto, observava o entra e sai de clientes e uma estátua de São Jorge, santo guerreiro ao qual o empresário era devoto. Ele não abria mão de um bom atendimento e primava por uma gastronomia de qualidade. O gerente geral da casa, Artaxerxes Martins conta que o patrão tratava a todos com respeito e cobrava honestidade e responsabilidade dos funcionários. "Ele costumava dizer que se você tem um problema, mas não resolveu e nem passou para frente, você faz parte do problema", revelou Martins.

Jorge ainda passava horas nos bares conversando com os amigos, muitos deles personalidades do meio artístico e da política. Entre eles, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com quem costumava ir para pescarias e era amigo íntimo antes mesmo da fundação do Partido dos Trabalhadores.

Pessoas próximas do empresário relatam que apesar de influente, Jorge tinha a simplicidade e a alegria como características. "Ele era um boêmio anfitrião e nem parecia ser o dono do bar. Falava com todo mundo e dava aconchego ao cliente, mesmo que não conhecesse. Tinha os funcionários como filhos", relatou Luiz Carlos Policarpo Pereira, gerente do Bar Brasília, na 506 Sul.

Além de negócios, Jorge gostava de escrever poemas, músicas e pretendia lançar mais livros. Tinha ainda um projeto de prestar atendimento especial ao público durante a Copa do Mundo de 2014. Ele era natural de Cruzília, Sul de Minas Gerais. Ele deixou mulher e três filhos. O enterro está marcado para esta quinta-feira (3/7), pela manhã, no Cemitério Campo da Esperança.

Em um quadro negro fixado na parede do Bar Brasília, uma homenagem escrita com giz dá o último adeus: "Eu brinco com o tempo como um menino brinca com o crescimento". A frase faz parte do livro Fazimento, lançado por Ferreira em 2009. O tempo não foi gentil com Ferreira. Aos 53 anos, ninguém esperava que o homem forte e sem nenhuma doença seria vítima de algum mal tão cedo. "O Jorge sempre pregou peças na gente. Era um poema, uma música ou um livro novo. Só que desta vez não teve graça nenhuma", lamentou Álvaro Abreu, 67 anos, arquiteto e amigo pessoal de Ferreira há mais de 20 anos.