Um grupo de jovens universitários reunidos em volta de dezenas de garrafas de cerveja. Poderia ser mais um encontro casual de amigos, mas a conversa entre os estudantes denuncia que há algo de diferente. No lugar de comentários sobre os últimos resultados do futebol e a rotina da universidade, os diálogos citam fermentação, beta amilase, enzimas alfa. Em vez de copos, cadernos na mão. A reunião faz parte das atividades da disciplina Fundamentos da Produção da Cerveja, oferecido pelo Instituto de Química da Universidade de Brasília (UnB). Ofertada pela primeira vez, a matéria foi a mais disputada entre os alunos da instituição. Com apenas 26 vagas, a lista de estudantes que tentaram a matrícula, mas ficaram de fora, ultrapassa os 180 nomes.
Engana-se quem acredita que os jovens matriculados na matéria encontraram uma boa maneira de conquistar boas notas sem esforço. Na primeira prova, apenas 70% conseguiram tirar mais do que a média. ;Teve só um 10. A grande maioria não foi muito bem;, conta Lourenço Di Gioergio, 23 anos. Formando no curso de Química e apaixonado por cerveja, ele é o monitor da turma e pretende continuar estudando a produção da bebida em um futuro mestrado. Aluno do segundo semestre do curso, Jayne Oliveira, 19, faz parte da turma que se encrencou na primeira prova. ;Não vou contar minha nota, mas não foi boa. Caíram muitos assuntos de química que ainda não estudei na faculdade e outros de biologia que nunca tinha visto na vida. Estou aprendendo muito, mais do que em algumas matérias clássicas do curso;, garante a estudante.
Responsável pela criação da disciplina, a professora Grace Ghesti, 29 anos, diz que não esperava atrair tantos interessados com o conteúdo. ;Foi um susto. Decidi criar a matéria para compartilhar o meu conhecimento sobre o assunto com os alunos;, conta a professora, que, além de ter trabalhado na Ambev durante anos, foi a Berlim, na Alemanha, estudar engenharia de cervejaria. A principal intenção com a disciplina, de acordo com a professora, era aproximar os alunos de química das possibilidades oferecidas pelo mercado. ;Toda a minha formação acadêmica foi dentro da UnB. Fui aluna de graduação, mestrado e doutorado. Sempre senti falta de disciplinas que falassem da vida de um químico fora da sala de aula. Quis mostrar como o profissional atua na aplicação da química em um processo tecnológico normal;, explica.