Cidades

DF tem a maior incidência de tráfico de drogas próximo às escolas públicas

Mais da metade das instituições de ensino registram ocorrência de vendas e compra de drogas nas redondezas

postado em 05/02/2013 10:13

Usuários de droga fumam crack ao lado de uma escola em Ceilândia
Pouco mais de um terço (35%) das escolas públicas brasileiras tem tráfico de drogas nas proximidades. Separados os estados e o Distrito Federal (DF), a proporção sobe. No DF, mais da metade dos estabelecimentos (53,2%), a maior proporção do país, registram a ocorrência de venda e compra de drogas nas redondezas. Nenhum estado está livre. A menor ocorrência, no Piauí, com 15,3% das escolas. Os dados foram levantados pelo , uma parceria entre a Meritt e a Fundação Lemann., organização sem fins lucrativos voltada para educação.

A pesquisa se baseou nas respostas dos questionários socioeconômicos da Prova Brasil 2011, aplicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), divulgada em agosto do ano passado. A questão sobre o tráfico nas proximidades das escolas foi respondida por 54,5 mil diretores das escolas públicas. Deles, 18,9 mil apontaram a existência da atividade. A situação, de acordo com especialistas, é preocupante e está associada diretamente à violência e à precariedade que cercam muitos centros de ensino do país, além de contribuir para que os alunos deixem de estudar.

[SAIBAMAIS]O responsável pelo estudo, o coordenador de Projetos da Fundação Lemann, Ernesto Martins, diz que não dá para isolar escola no contexto em que está inserida. ;Ela faz parte de um todo maior, se há violência fora, haverá também nos centros de ensino. Basta observar que o Distrito Federal [53,2%] e São Paulo [47,1%], [regiões] com altos índices de violência, são [as áreas] com o maior percentual.;



Outro problema que advém da situação é a evasão escolar. Para a diretora executiva do movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, a evasão deve ser uma das grandes preocupações dos governos. ;Muitos jovens acabam deixando os estudos pela proximidade com as drogas. Isso gera um problema ainda maior que não pode ser ignorado;, diz. A porcentagem (de 35%) constatada pelo estudo, segundo ela, seria alta mesmo que fossem 10% ou menos. Para ela, a escola deve ser um local de cuidado e aprendizado.

Morador do Distrito Federal, o coordenador intermediário de Direitos Humanos e Diversidade na Regional de Ensino do Recanto das Emas (região administrativa do DF), o professor Celso Leitão Freitas, confirma os dados e diz que o tráfico próximo às escolas é mais comum do que se imagina. ;As ocorrências são diárias. Pensamos que é um problema só do aluno, mas, quando se vai atrás, a família toda está envolvida com drogas e ele traz esse hábito de dentro de casa;. Freitas é prova de que o tráfico está associado à violência, tanto entre pessoas, quanto a que chamou de estrutural: a falta de serviços básicos. "Aqui presenciamos a falta de moradia, de educação, a falta de benefícios econômicos como um todo."

Os programas para combater o uso de drogas são vários, tanto governamentais quanto iniciativas privadas, e é consenso que para mudar a realidade nas proximidades da escola é preciso modificar a realidade da comunidade, por meio de assistência social e acesso a políticas públicas e a itens básicos como saúde, saneamento, alimentação, além de uma educação de qualidade.

Para combater o tráfico e ajudar os alunos, ainda enquanto era professor, Freitas resolveu tomar uma iniciativa ele mesmo: criou o projeto Estudar em Paz, para resgatar o interesse pelos estudos. ;A comunidade perdeu o encanto pela escola, precisamos resgatar isso. Ao mesmo tempo, as ruas estão cada vez mais ;encantadoras;, cada vez mais estamos perdendo nossos alunos para o trafico;, acrescenta.

O estudante Natanael Neves, de 18 anos, fez parte do grupo Estudar em Paz. Dos tempos de escola, ele conta que não tinha a menor paciência, bastava ;não ir com a cara; da pessoa para já começar a bater. E a violência estava lado a lado com o tráfico. Apesar de não ter feito o uso de drogas, ele viu colegas consumirem tanto nas ruas, quando dentro da escola, em São Sebastião (região administrativa do DF).

;O local tinha policiamento, mas os guardas ficam com medo. O pessoal sabe e [usar drogas] já é algo quase normal;. A agressividade foi algo que herdou de casa. Ele diz que queria chamar a atenção dos pais. A vida pessoal acabava chegando às salas de aula: ;Na escola você só aperfeiçoa o que aprende em casa.; Hoje, Natanael se diz uma nova pessoa, foi aprovado para o curso de gestão pública pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e pretende voltar ao ambiente escolar depois de formado para mudar a realidade. Ele diz que perdeu as contas dos amigos que deixaram as salas de aula por problemas com tráfico e violência.

Confira a reportagem da TV Brasília

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