Os cabelos de Dona Geralda Rosa Santos, hoje com 75 anos, ainda exibiam um negro vivo e as costas de Seu José Carneiro, agora, aos 84, não teimavam em doer tanto quando eles se casaram pela primeira vez em Natal (RN), em 13 de maio de 1959. De origem humilde, o casal fez uma cerimônia simples, sem pompa. Era apenas a terceira vez que eles se encontravam cara a cara e o casório era mais uma necessidade do que realmente uma celebração de amor.
O segundo pedido de casamento de Seu José para Dona Geralda veio há menos de três meses e pegou a paraibana de surpresa. O ex-marido acabara de ficar viúvo e não aguentava a dor de viver sem alguém ao lado, na casa simples onde mora, na Quadra 18 do Setor de Condomínios de Valparaíso (GO). ;Decidi me casar de novo para poder tomar conta dele e ele de mim;, conta a noiva, com um sorriso no rosto.
A troca de afagos do casal revela que o longo período de afastamento não apagou o carinho existente entre os dois. Ao contrário, serviu apenas para amadurecer o sentimento surgido lá no Rio Grande do Norte, quando um amigo da igreja apresentou a moça simples de 24 anos ao rapaz de 38, também pobre, mas muito trabalhador. Se antes a dupla vivia entre brigas e disputas, agora só se vê companheirismo e um brilho no olho de Seu José ao falar da futura esposa. ;Para mim, ela é a mulher mais bonita que tem. Coisa melhor é ficar casado com ela;, diz ele, emocionado.
O segundo casamento da dupla será uma cerimônia simples, só no civil. Dona Geralda ainda nem sabe qual roupa vai usar. Mas, dessa vez, vai haver festa. Uma das filhas do casal vai comemorar o retorno dos pais com uma pequena celebração na sua casa em Taguatinga Norte, que deve ajuntar toda a família fruto da primeira união dos dois ; filhos, netos e bisnetos com uma bela história de família para contar. ;Todo mundo aceitou nossa decisão. Eles gostaram de saber;, conta o aposentado.
Reviravolta
Quando se casaram pela primeira vez, Dona Geralda e Seu José foram viver em uma pequena fazenda no interior do Rio Grande do Norte. Com muita dificuldade, ele tirava o sustento da roça. Mas a esposa não se adaptou à vida fora da cidade e o casal mudou-se para Natal. ;A gente voltou para a capital, só que era muito difícil conseguir emprego;, lembra o aposentado. ;Um dia, voltando para casa, vi um pessoal recrutando alguns homens para trabalhar em Goiás. Nem falei com a mulher. Eu me inscrevi e, no dia seguinte, subi em um pau de arara e fui para lá.;
A esposa, então, voltou para a casa dos pais e um ano depois pegou um ônibus para Brasília, onde o marido tinha conseguido um emprego de vigia. ;Fui eu e mais três crianças, filhos do primeiro casamento dele. Eram oito dias de viagem. Nós quatro espremidos em duas poltronas, parecendo teclado de acordeão;, lembra Dona Geralda. Desembarcando na capital federal, a família foi morar em uma invasão, próximo à Avenida das Nações. Alguns meses depois, ganharam um lote no Gama, onde ficaram por pouco mais de 20 anos e tiveram todos os seus filhos juntos. Só que o gênio difícil dos dois não permitiu que o casamento fosse adiante. Após inúmeras discussões, eles se separaram e, um ano depois, assinaram os papéis do divórcio.
Emoção
Nesse meio tempo, Seu José, então funcionário da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), conheceu a empregada doméstica Adna Moreira, com 38 anos na época. ;Ela passava perto do canteiro onde eu trabalhava. Um dia a gente começou a conversar e eu disse: ;Vou falar com a Geralda. Se ela não quiser se reconciliar comigo, a gente se casa;;, lembra. E assim foi.
Com a negativa da mulher, ele pediu a moça em casamento e começou uma nova família, a apenas alguns metros da antiga residência, onde continuava a morar a ex-mulher com os sete filhos. ;Ele comprou uma casa na mesma quadra. Eu vivia encontrando com a Adna. Ela me chamava para conversar e ficamos próximas, nunca tive raiva dela;, conta a hoje noiva, que durante os 32 anos de separação preferiu ficar sozinha.
Em agosto deste ano, porém, a nova esposa de Seu José faleceu a caminho do hospital, de causa desconhecida. Desolado, ele procurou conforto nos amigos da igreja e, deles, recebeu a sugestão de procurar Dona Geralda, que acabava de se recuperar de um câncer no intestino. ;Achei que ela não ia me querer mais. Graças a Deus ela estava com o coração manso quando pedi e ela aceitou;, lembra o aposentado.
Depois de receber a aprovação do pastor da igreja que frequentam, dona Geralda deixou na manhã de ontem a casa da filha, em Taguatinga, e se acomodou na residência do futuro marido. Agora, Seu José Carneiro não reclama mais da solidão e é só elogios à ex e agora futura esposa. ;Eu digo que não escolhi essa mulher para mim. Foi Deus. Ele sabe escolher melhor;, brinca o noivo, com lágrimas nos olhos.
Memória
No mundo do cinema
Alguns artistas de cinema ganharam mais fama ainda com a vida pessoal, principalmente quando se separaram e casaram novamente com a mesma pessoa. Três dias antes da morte de Richard Burton, a norte-americana Elizabeth Taylor recebeu a última carta de amor que ele havia escrito. O segredo morreu com ela, em 2011. O amor entre os dois astros de Hollywood nasceu nas gravações de Cleópatra (1963). Foram casados de 1964 a 1974 e divorciaram-se por causa das brigas. Em 1975, casaram-se novamente, mas o enlace não passou de um ano. Os dois adotaram uma menina alemã, Maria Burton.
Um caso de amor que prosperou na segunda tentativa foi o da inglesa Vanessa Redgrave com o italiano Franco Nero (foto), que se apaixonaram no set de Camelot (1966). Depois do nascimento do filho, Carlo, em 1969, se separaram. Casaram-se 37 anos depois, em 2006.
A união entre os norte-americanos Robert Wagner e Natalie Wood ocorreu em dezembro de 1957, quando ele tinha 27 anos, e ela, 18. Cinco anos depois, divorciaram-se. Uma década após a separação, casaram-se em 1972. A única filha do casal, Courtney Wagner, nasceu em 1974. Ficaram juntos até a morte de Natalie, em 1981.