Ficou com 30% do corpo queimado. Foi levado, primeiramente, para o Hospital Regional do Gama (HRG) e depois, ao Hran, referência no tratamento de queimaduras. Voltou para casa com os braços e a cabeça enfaixados. Somente olhos, boca e nariz estão livres. Os machucados ainda doem, mas o que mais o incomoda é não poder trabalhar: deve ficar de repouso nos próximos 45 dias e tomar medicamentos corretamente. Sem parentes na cidade, vai precisar da ajuda de amigos.
O homem que arranca sorrisos e gargalhadas das pessoas de todas as idades recebeu nesses dias em que esteve internado toda a alegria que distribuiu durante os 25 anos de trabalho. Assim que soube do acidente, a analista de recursos humanos Vivian Oliveira, 24 anos, moradora do Gama, foi até o hospital. ;Tirei uma foto com ele e divulguei para dizer que ele estava tudo bem;, contou. As imagens se espalharam nas redes sociais e logo começaram a surgir milhares de mensagens. O Gama e o DF se mobilizaram em prol da recuperação do palhaço, e Vivian começou a pedir ajuda para o artista.
Esse carinho tornou os dias de Pirulito no hospital mais fáceis. ;Minha maior felicidade é saber que o Brasil inteiro estava rezando por mim. Queria agradecer a todos que fizeram essa corrente;, disse. A solidariedade rendeu até um vídeo com homenagens: no último sábado, algumas pessoas se reuniram em frente ao Estádio Bezerrão e gravaram depoimentos.
Preocupação
Os amigos sabem que ele precisa de muito mais. O palhaço mora em um lugar bem simples no Gama. Não tem um colchão confortável para descansar e se recuperar. ;Fui até a casa dele na sexta-feira à noite para ver o que faltava;, contou Vivian. O artista vive em um espaço sem geladeira, fogão, televisão e armários. Precisa ainda de mantimentos e de material de limpeza e de higiene, além de recursos para custear os gastos mensais com aluguel, água, luz e alimentação. Pirulito está preocupado. Sem poder trabalhar, não sabe como vai fazer para viver.
Os olhos dele se enchem de lágrimas ao se lembrar do acidente. ;Quando chegamos na entrada do Gama, eu ouvi uma explosão. Olhei para trás e vi as chamas. Só deu tempo de abrir a porta e me jogar, sair rolando;, descreveu.
O palhaço deu entrada no hospital como José dos Santos Cavalcanti, nome de batismo. Mas, logo, o paciente chamou a atenção dos servidores do Hran. ;Os vigias, o pessoal da limpeza, todos vieram me ver. Recebi muitas visitas. Na terça-feira, tinha fila do lado de fora do quarto;, admirou-se. O carinho também chegou de fora. ;Recebi ligações de todo o Brasil. Se não fosse o apoio das pessoas, eu não estaria aqui hoje.;
Por onde ele anda, mesmo com o rosto escondido pela faixa, é reconhecido nas ruas. Basta parar um instante para as pessoas irem conversar e desejar boa recuperação.
Na casa do palhaço, não faltaram amigos para recebê-lo. ;Qualquer morador o conhece, não importa a idade. Precisamos ajudá-lo;, convocou o policial militar Otávio Manoel de Jesus, 54 anos, morador do Gama. ;Vou aproveitar uma reunião entre comerciantes para pedir ajuda, precisamos fazer alguma coisa;, completou.
O comerciante e ajudante de Pirulito, Deymes Silva Antunes, 34 anos, também se mobilizou. Se antes fazia as laranjinhas para vender, agora vai fiscalizar se o amigo está tomando a medicação corretamente. ;Vou tomar conta dele. Ele é um símbolo da cidade e do nosso time;, disse. A filha de Deymes, Maria Antônia Antunes, 5 anos, correu para dar um abraço no palhaço. ;Gosto das brincadeiras e das guloseimas;, disse a menina. Com as manifestações de carinho, Pirulito se emociona. ;Vou levando a vida assim sorrindo. Sei que sou respeitado;, concluiu.
Perfil
José dos Santos Cavalcanti, 46 anos, o Pirulito, nasceu em São Rafael (RN) e se mudou para Brasília em 1984. Veio para a capital em busca de um sonho: trabalhar em novelas, mas a vida tomou outro rumo e o levou às apresentações em escolas e praças públicas. A primeira aparição como palhaço foi no Colégio JK, no Gama. Não parou mais. Pirulito está presente em vários eventos no Distrito Federal, vendendo picolé, algodão-doce e estalinho, cantando e divertindo a criançada. Além do DF, já levou seu show para cidades em São Paulo, no Espírito Santo e em Goiás. Torcedor fanático do Gama, não perde uma partida do time que já disputou a primeira divisão do Campeonato Brasileiro.
Para ajudar
O Palhaço Pirulito precisa de auxílio. Na casa onde mora sozinho, não existem geladeira, fogão, televisão nem armários. Ele necessita também de mantimentos e material de higiene e limpeza. Contatos: 9903-2053. O telefone do amigo Deymes é 9135-4917.