A Ponte Costa e Silva é o último lembrete dos anos de chumbo na capital brasileira. Desde 6 de fevereiro de 1976, a beleza de ponte projetada por Oscar Niemeyer leva o nome do marechal e ex-presidente Arthur da Costa e Silva, em cujo governo recrudesceram a opressão e a censura do regime. Em duas tentativas silenciosas, em 1999 e 2003, projetos de lei tentaram renomear o monumento. Em vão. Da parte do Executivo local, nenhuma iniciativa tratou ou trata do assunto.
Monumentos da capital que receberam o nome de militares durante os anos de chumbo foram rebatizados com a volta do regime democrático. Estrutura localizada no Lago Sul é a única que resiste, apesar de queixas de brasilienses. Até 11 de julho passado, dia em que a placa de identificação da ponte trocou a deferência ao militar por uma homenagem ao samba. Saiu Costa e Silva, entrou Bezerra da Silva. A intervenção é de autoria do Coletivo Transverso. Durou pouco e rapidamente foi reparada pelas autoridades. ;Aquele nome está ali e ninguém presta mais atenção para o que significa. Nossa intenção foi justamente provocar essa reflexão;, explica Cauê Maia, 27 anos, responsável pela ação. A intenção do artista é que a memória dos dias obscuros do governo do marechal Costa e Silva não sejam esquecidos. O Ato Institucional n; 5, que suspendeu direitos civis constitucionais e reforçou os poderes do Estado no combate a movimentações políticas contestatórias, foi editado justamente nesse período.