É preciso reconstruir muito além de edifícios após um terremoto. É necessário reerguer pessoas e as lembranças que as habitam. Vidas que resistiram ao tremor de terra registrado no Haiti, em 12 de janeiro de 2010, mudaram radicalmente após o desastre natural. Em questão de minutos, o país que já era o mais pobre das Américas se viu destroçado. Após chorar pelos mortos, percebeu-se que não havia mais comida, emprego nem perspectivas de melhorar. Não restou alternativa aos sobreviventes a não ser migrar para outros territórios. Muitos deles buscam o recomeço em Brasília.
O Brasil tornou-se um dos principais destinos dos haitianos devido à relativa proximidade e à boa receptividade do país a estrangeiros. Vinculado à Igreja Católica, o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH) é um dos maiores apoiadores dos refugiados e migrantes e estima que 7 mil homens e mulheres vindos do Haiti vivam no Brasil legalmente. Desses, 23 estão em Brasília, em situação regular. Mas outros tantos ; falam em centenas ; estão espalhados pelo Distrito Federal à espera da legalização da documentação. Não há um número oficial justamente por causa da clandestinidade.
No caso dos 23 haitianos autorizados a morar e a trabalhar no Brasil e que escolheram o DF como destino, a maioria encontrou emprego na construção civil, por intermédio do IMDH. ;A capital de um país é vista como centro de oportunidades, por isso eles vêm para Brasília, após passar por outras cidades;, explica a diretora do instituto, irmã Rosita Milesi. Quase todos moram no Varjão, onde funciona a sede da instituição. Dividem pequenos quartos alugados, muitas vezes sem banheiro ou fogão, apenas com colchonetes e cobertas, deixados para trás quando saem para trabalhar.