Você consegue imaginar o Lago Paranoá em situação semelhante à do Rio Tietê (SP), um dos mais poluídos do país? O que parece ser um exagero é um dos itens da agenda de preocupações do secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídrico do DF, Eduardo Brandão. Segundo ele, com pouco mais de 50 anos, o lago já perdeu 15% de lâmina d;água. O assoreamento avança rapidamente e as dragagens para retirar o excesso de resíduos que se acumulam no leito do Paranoá não são suficientes para reverter a situação. Se continuar nesse ritmo, o secretário arrisca prever que dentro de 20 anos o lago fará parte das lembranças dos brasilienses.
Nos últimos anos, a ameaça piorou com a expansão das ocupações irregulares. Esse processo não poupou as nascentes, as matas ciliares ou a vegetação de galerias de pequenos córregos e rios que compõe a Bacia do Rio Paranoá e alimentam o lago. O acrescimento populacional é outro elemento de pressão sobre a crescente demanda por água no Distrito Federal. Recuperar parte desse patrimônio hídrico é um dos grandes desafios da secretaria, a fim de estender a sobrevida do lago. ;Um dos nossos mais importantes programas é o Caminho das Águas, que prevê o replantio de espécies nativas ao redor dos córregos e dos rios, a fim de recuperarmos a Bacia do Paranoá;, diz Eduardo Brandão.
A questão está no rol dos projetos especiais da secretaria que busca, por meio da aplicação da lei de compensação ambiental, dar efetividade ao plano de recuperação da bacia. O projeto prevê ainda a criação de áreas de convivência, com a edificação de pistas de Cooper, ciclovias, pontos de encontro para a terceira idade e outros equipamentos urbanos. O intuito é socializar o acesso às margens dos cursos d;águas, a fim de sensibilizar a comunidade para que ela se sinta protetora e fiscal dessas áreas.
O projeto será levado à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio%2b20) como exemplo de boa prática ambiental. O presidente do Comitê de Bacia do Lago Paranoá, Paulo Sérgio Bretas de Almeida Salles, professor da Universidade de Brasília, embora não goste de fazer previsões, lembra que todo lago tende a desaparecer por estar na parte mais baixa da bacia hidrográfica. Assim, os lagos, de um modo geral, recebem os sedimentos que, ao longo do tempo, os vão mortificando. ;Esse é um processo natural que podemos acelerar ou retardar;, diz o professor, ao acrescentar que o Paranoá não seria uma exceção.
Assoreamento
O Lago Paranoá, formado em 1959, ocupava cerca de 48km; e, hoje, não chega a ter 40km; de área. Com pouco mais de 50 anos, essa redução é considerada expressiva e está associada à substituição de vegetação nativa pelos belos gramados das mansões que margeiam o lago. Para o assoreamento também contribuem a movimentação de terra na cidade devido à expansão da construção civil. Todos esses fatores, somados aos fenômenos naturais, como chuva e vento, carreiam terra que se sedimenta no fundo do lago.
De acordo com o professor Paulo Bretas, os efeitos do assoreamento são bastante nítidos na região próxima ao balão do Aeroporto, entre o Jardim Zoológico e a Candagolândia até a QI 5 do Lago Sul. ;O local está bastante detonado, com a vegetação ocupando o espaço onde antes era água.; O mesmo ocorre na Ponte das Garças, nas proximidades da QI 9 do Lago Sul, e se repete na Ponte do Bragueto, no Lago Norte.
Apesar da previsão do secretário de Meio Ambiente, o professor Paulo Bretas lembra que no fim dos anos 1970, o Lago Paranoá viveu um momento trágico. Extremamente poluído pelo esgoto que recebia, ocorreu uma mortandade nunca antes vista de peixes. Na época, o episódio mereceu a manchete do Correio, devido ao mau cheiro que o lago exalava para toda a cidade. A situação despertou a atenção das autoridades. Foram realizados altos investimentos e desencadeado o processo de despoluição do Paranoá. A balneabilidade foi recuperada, condição que, hoje, permite as pessoas nadar e realizar as mais diferentes práticas esportivas.
Provavelmente, em poucos anos, será fonte de captação de água para consumo dos brasilienses. ;É um dos poucos exemplos de um lago urbano que foi recuperado;, afirma o professor Paulo Bretas, que elogia o trabalho que vem sendo feito pela Companhia de Saneamento Ambiental de Brasília (Caesb).
Para saber mais
O Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Paranoá foi criado por meio do Decreto n; 27.152, em 31 de agosto de 2006. Conheça mais no site: http://www.cbhparanoa.df.gov.br/
Rosane Garcia escreve para a coluna Viva Cerrado do hotsite Ser Sustentável (www2.correiobraziliense.com.br/sersustentavel/).