O caminho até a universidade costuma ser longo. Para os estudantes da zona rural, é ainda mais distante. No caso de crianças e adolescentes de povoados do Entorno do Distrito Federal, inclui viagens diárias de até seis horas em veículos velhos e estradas esburacadas, com pontes perigosas e desfiladeiros. Diante de tantos obstáculos, para realizar o sonho de se tornar médico, engenheiro, professor, mudar de vida, alunos da rede pública de uma cidade goiana vizinha da capital do país precisam acordar às 4h, mesmo com as aulas começando às 7h30. Muitas vezes, a espera no breu não garante o acesso à escola nem a uma boa educação. Em época de chuva, o transporte não chega às chácaras e fazendas onde moram os passageiros. Também faltam professor e material pedagógico.
Durante duas noites e três dias, o Correio acompanhou a saga de meninos e meninas a partir dos 7 anos para estudar em três escolas da área rural de Planaltina de Goiás, conhecida como Brasilinha. Além da longa e cansativa viagem de ida e volta, a equipe do jornal testemunhou a luta dos alunos para ficarem acordados durante as aulas e fazer as lições em casa. Quase nenhum tem acesso a internet ou tevê a cabo. Poucos pisaram em uma biblioteca. Filhos de pequenos produtores rurais, caseiros, vaqueiros, muitos precisam ajudar a mãe nos afazeres domésticos e o pai no árduo trabalho na roça. Alguns vivem isolados no cerrado, em barracos de lona, sem telefone, água e esgoto tratados. Como os trajetos são demorados e eles não têm dinheiro para lanche, chegam com fome à escola e em casa.
Mas nada desanima esses estudantes. A importância dada à escola é demonstrada pela perseverança, o comportamento, as notas, as roupas e os calçados. Cada um usa o que de melhor tem para frequentar o colégio. A maioria só falta à aula se o carro, a van ou o ônibus fornecido pelo município não passar. Mas eles nunca sabem com antecedência se o transporte virá. Por isso, sempre saem da cama de madrugada. Normalmente, a espera pelo veículo é solitária, à margem da estrada ; empoeirada ou enlameada, dependendo do clima ;, quase sempre sob frio intenso, por causa da região de vales onde ficam os povoados. A menos de 50km dos limites do moderno e rico Distrito Federal, tais distritos estão em áreas quase desabitadas, com matas fechadas, tomadas por animais selvagens, como onças e cobras.