Jornal Correio Braziliense

Cidades

Mesmo com prova de DNA, homem nega ter estuprado e engravidado a filha

Um tio também é suspeito de abusar da jovem, que deu à luz há um mês


Aos 12 anos, uma garota tornou-se mãe de filho do próprio pai, após uma série de abusos. O homem, de 34 anos, nega a violência, mas exames de DNA confirmaram a paternidade. Um tio da menina também é suspeito de estuprá-la.

Moradora de chácara no Setor Sol Nascente, em Ceilândia, a garota foi trazida do Piauí, há três anos, devido aos maus-tratos cometidos pela mãe. No mesmo terreno onde foi recebida no DF, vivia um tio, que teria iniciado os abusos quando a vítima tinha 10 anos. Em seguida, o pai teria dado continuidade aos estupros, cessados apenas com a descoberta da gravidez, que gerou um menino.

;Essa é a pior história de todas;, disse a delegada-chefe da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), Valéria Martirena, ao iniciar a coletiva em que o pai da jovem foi apresentado à imprensa, na tarde desta segunda-feira (30/1). O homem trabalhava há vários anos na chácara para a qual trouxe a filha. No local, há três residências ; uma do proprietário, uma do acusado e outra do tio suspeito.

Mãe há um mês, a garota viveu com os pais até os quatro anos de idade, no Piauí. Com a separação, seguiu morando com a mãe, no mesmo estado. ;Há três anos, o pai a buscou, porque ela sofria maus-tratos da mãe;, relatou Martirena. Um ano após chegar ao DF, teriam começado os abusos. ;Na primeira vez, aos 10 anos, ela foi molestada pelo tio, que mora na mesma chácara;, afirmou a delegada. Embora não desconfiasse do marido, a madrasta suspeitava do tio. E questionou a menina. ;Ela contou que o tio tinha tentado (o estupro), não afirmou que já tinha molestado. Depois disso, o pai começou;, relatou Martirena.

Após desconfiar da gravidez da garota, a dona da chácara avisou à madrasta, que repassou a situação ao Conselho Tutelar de Ceilândia, em março de 2011. Conselheiros da unidade informaram o caso à DPCA. A princípio, ao conversar com a madrasta, a garota teria atribuído a gravidez à relação com um desconhecido, segundo a titular da especializada. Ouvida novamente ontem, ao saber da captura do pai, a filha relevou abusos sofridos nos últimos três anos. ;A maioria dos abusadores de crianças são conhecidos da família. Como ela morava em área rural, não teria acesso a muitas pessoas, a não ser os próprios parentes;, disse Martirena.

DNA
A suspeita levou à coleta de material genético de dois tios e do pai. Concluídos na última quarta-feira, os exames revelaram a paternidade. ;O diagnóstico foi de que o autor era pai e avô da criança.; Ao confirmar a autoria do abuso, a garota explicou aos policiais o motivo de ter escondido a história da polícia. ;Ela disse que não contou porque não sabia o que seria da vida dela, já que o pai era a única pessoa que cuidava dela.;

O pai nega o crime, mesmo ciente dos exames de DNA. Ele teria chegado a acompanhar a filha durante o tratamento psicológico prestado pelo Conselho Tutelar. Casado novamente, o suspeito tem uma filha de oito anos com a esposa atual. A garota, diz Martirena, será ouvida pelos policiais. Outra frente de investigação apura as acusações contra o tio, que também nega os abusos.

Segundo a delegada da DPCA, o pai responderá por estupro de vulnerável, com agravante pelo fato de ser pai da vítima. Se condenado, pode receber pena de oito a 15 anos de prisão pelo crime. O caso foi reencaminhado ao Conselho Tutelar. A garota deve ficar sob a guarda da filha do dono da propriedade, que não mora no terreno. ;O conselho e o juiz da Vara da Infância vão cuidar da situação. Torcemos para que algum familiar, daqui ou do Piauí, possa abrigar essa criança e dar condições para que ela viva de forma mais tranquila a partir de agora;, disse a delegada.