Jornal Correio Braziliense

Cidades

Família do DF batalha para pagar tratamento de jovem de 21 anos na China

Afetado por um problema de saúde que sua mãe teve durante a gravidez, jovem chegou à idade adulta sem desenvolvimento cognitivo. A esperança é uma viagem à China, mas a família não pode arcar com os custos do tratamento e procura ajuda


Há 21 anos, a servidora pública Ivonete Dias Beliene, 55, dedica-se totalmente ao filho Ramon Dias Beliene. O menino nasceu com sérios problemas de saúde. A mãe teve pré-eclâmpsia (caracterizada pela alta na pressão arterial). As complicações aumentaram devido à falta de oxigenação para o bebê durante o parto. Tudo isso gerou atraso no desenvolvimento neuropsicomotor de Ramon. O cérebro dele não recebe estímulos da maneira correta. Informações demoram muito ou nem chegam a ser transmitidas ao corpo.

Por essas razões, Ivonete precisa acompanhar o jovem em atividades do cotidiano, como tomar banho e calçar sapatos. Além disso, Ramon não consegue ser alfabetizado. Aos 21 anos, não sabe ler ou escrever. Tem problemas de fala, audição e visão. Anda com dificuldade. Os dias e noites de Ivonete são destinados a melhorar a qualidade de vida do filho. Após o nascimento, o bebê ficou durante 90 dias na UTI. Alguns órgãos, como o estômago, não se formaram normalmente durante a gestação. Ramon tem apenas um rim. ;Ele foi desacreditado pelos médicos. Não deram expectativa de vida longa a ele. Mas nós lutamos, nunca aceitamos essa possibilidade;, relata Ivonete.

Até os 7 anos, Ramon não tinha diagnóstico exato. Chegou a se tratar no Hospital Sarah Kubitschek. Aos 6 anos, tinha o tamanho de uma criança de 2, no máximo. A mãe o carregava no colo. Após muito tempo de tratamento, o menino começou a se desenvolver. Ganhou altura e peso, mas não capacidade cognitiva. ;É como se eu estivesse criando um bebê há 21 anos;, descreve a mãe.

Recentemente, durante uma madrugada de pesquisas na internet em busca de informações que pudessem ajudá-la nesse objetivo, a servidora pública as encontrou em um site sobre métodos de tratamento com células-tronco realizado em um hospital da China, com promessas de bons resultados em situações semelhantes à de Ramon. Enviou e-mails e submeteu o filho a uma avaliação à distância. Mandou cópias de todo o histórico médico do rapaz para a China.

Aprovaram Ramon, ao perceber que ele poderia ter êxito com técnicas aplicadas bem longe daqui. O tratamento, porém, custaria US$ 26 mil, fora as despesas com passagem e alimentação. A família não tem como pagar. Começou uma campanha em busca de doações, para transformar a esperança em realidade. Criou um blog: ajuderamon.blogspot.com. Amigos do local onde Ivonete trabalha como revisora de textos, a Associação dos Servidores da Imprensa Nacional (Asdin), mobilizaram-se para conseguir dinheiro.

Publicaram a história de Ramon no jornal interno da instituição e espalharam o endereço do site por todos os cantos. A ação rendeu R$ 1,6 mil, depositados na conta da família. Ivonete promoveu também rifas de diárias de hotéis e pretende sortear uma televisão. Tudo para aumentar a renda. ;Foi em busca de uma qualidade de vida melhor para o meu filho e pela vontade de vê-lo bem, como um menino da sua idade, que foi crescendo em mim, cada vez mais, a vontade e o desejo de fazer algo que pudesse ajudá-lo na sua realização como a pessoa que é.;

Análise

A empresa chinesa, de nome Beike Biotecnologia, pesquisa células-tronco desde 1999. Há 26 anos, os resultados começaram a surgir. ;Vale lembrar que nem todas as pessoas que fazem contato com esses hospitais são aceitas para o tratamento. O diagnóstico, exames, história e o quadro do paciente são analisados por uma equipe médica da Beike para uma aceitação;, explica Ivonete. A revisora procurou informações referentes a pessoas que já se trataram na China.

Pacientes que não comiam sozinhos passaram a alimentar-se com independência. ;Pode parecer pouco para quem tem a saúde perfeita. Mas não é. Eu vejo o esforço diário do Ramon. Ele tem uma vontade enorme de aprender, mas não consegue. Ele quer fazer tudo sozinho, algo por si mesmo, mas eu sempre preciso ajudá-lo. Tenho o sonho de ver o Ramon mais independente.;

Ivonete adotou um lema na luta pela saúde de Ramon: quando se trata de ajudar um filho, tudo se torna possível. ;Com esse pensamento, fiquei por madrugadas adentro numa busca incessante pela internet, à procura de algo que me fizesse crer que, quando se deseja alguma coisa com intensidade, tudo se torna irremediavelmente possível. Dessa maneira, descobri e cheguei à Beike, e, acreditando que nada acontece por acaso, fiz contato.;

A proximidade entre mãe e filho emociona. Ramon é aluno da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Nas férias, vai com Ivonete para o trabalho dela. ;Não tem como pagar alguém para ficar com ele. Acho melhor ficar bem perto, trazê-lo para cá.; Assim, os colegas de serviço da revisora também se apegaram a Ramon. O rapaz passa horas em frente ao computador, com fones de ouvido e assistindo a vídeos com música na tela. Sente-se contagiado pelo ritmo do som. Prefere hip-hop, mas também gosta de MPB. Enquanto Ivonete segue na luta por recursos financeiros, Ramon permanece em um mundo particular.


Quer colaborar?
Fale com Ivonete: 8128-0423 e 9121-0991.